segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

Hunsrikisch.

 

WORME TOCHE

 

Dea liewe Leid noch mol, iss das die letzte Zeite en wormes Wetta. Do wetz em jo bald schlecht. Ma schwitz Toach um Nacht; um dann noch extra wenn ma in die Plantosch Maniok putze muss gehen. Sowas kinne die Stettaleid gonet bokeppe. Naja, die Menschheit tut jo die ganz Natur vorsaue. Alles wet ausgenutz un de Wald tunse als mea weckmache. Das kommt noch so weit des ma nemme lewe kinne. Traurich, awa woa. Naja, wolle mea uns uffpasse, viel Wassa trinke un net so ohrich in de Sunn bleiwe so um die Mittachzeit.

Um jetz winsche ich alle gute Leid en frehlich Weihnachte, mit Gesundheit um Friede. Dass das Jesuskind en offnes Hetz in uns all oantrefft. Um gutes Neijoha. Glaabmario.

domingo, 10 de setembro de 2023

Conhecendo a doutrina da Igreja.

                                                  O Dogma da Imaculada Conceição

 

No ano de 1954, com o Papa Pio IX, a Igreja declarou como dogma de fé a Imaculada Conceição de Maria. A partir de então, a doutrina que tem a Virgem Maria como imune do pecado original faz parte do conteúdo da fé católica.

A definição

            Foi exatamente no dia 08 de dezembro de 1854 que o Papa Pio IX declarou solenemente infalível a doutrina da Imaculada Conceição de Maria, com a bula denominada Ineffabilis Deus (Deus Inefável). Assim o Papa publicou o decreto: “Declaramos, pronunciamos e definimos como doutrina revelada por Deus o seguinte: a Beatíssima Virgem Maria, no primeiro instante de sua concepção, por singular graça e privilégio de Deus onipotente, em vista dos méritos de Jesus Cristo, o Salvador do gênero humano, foi preservada imune de toda mancha de pecado original. Essa doutrina, pois, deve ser crida firmemente e inviolavelmente por todos os fiéis”. (O Papa, mais tarde testemunhou que quando declarou este dogma sentiu uma alegria tão grande, impossível de explicar).

            Para o Papa chegar a declarar esse dogma mariano foi preciso levar em conta os dados da Palavra de Deus, principalmente onde o Anjo chama Maria de “cheia de graça” (Lc 1,28); e, de modo especial, o povo de Deus que, meditando e degustando essa Palavra, compreendeu que a Mãe de Jesus tinha sido, desde sempre, toda pura, sem mancha alguma. O povo de Deus, desde os primórdios da Igreja, sempre possuía a certeza de que Maria nunca foi dominada pelo pecado. Sabia muito bem que a mulher que iria esmagar a cabeça da serpente jamais fora esmagada por ela. O Magistério da Igreja se faz porta-voz do sentido profundo de fé que o povo dá para as devoções, e os privilégios especiais de Maria, tão fortemente presentes na tradição católica, que sempre se fizeram ouvir.

            Já bem antes da solene definição, o povo comemorava a festa da Imaculada. No Oriente ela já existia desde o século VII e no Ocidente começou no século IX. Bem antes de se tornar dogma, vários testemunhos, até o martírio, afirmam esta doutrina.

            Uma curiosidade: no ano de 1857 o dogma da Imaculada Conceição é confirmado por Nossa Senhora de Lourdes, que se identificou como a “Imaculada Conceição” para a jovem vidente, que nem sequer sabia o que isso queria dizer.

Bases bíblicas e da tradição

            Como vimos acima, o texto bíblico de maior importância para esse dogma é, sem dúvida, o de Lucas 1,28: “O anjo entrou onde ela estava e disse: ‘Alegra-te, cheia de graça! O Senhor está contigo’”. Esta é uma expressão única na Bíblia e, conforme se pode constatar, surpreendeu a própria Virgem: “Ela ficou muito confusa com estas palavras e começou a pensar qual seria o significado da saudação” (Lc 1,29). “Cheia de graça” deve ser entendido como algo próprio dela desde o primeiro instante de sua concepção.

            Outro texto do evangelho de Lucas que serve de base para a Imaculada Conceição está no cântico de Maria: “O Todo-Poderoso fez em mim maravilhas” (Lc 1,49). A Virgem Maria ser concebida sem pecado original é uma das grandes maravilhas que Deus nela realizou.

            Já os Santos Padres veem em Maria a Nova Eva, aquela que se dispôs totalmente a fazer a vontade de Deus. Quando ela diz “eis aqui a serva do Senhor” (Lc 1,38), está cumprindo nela mesma a promessa de Deus: “Esta te ferirá a cabeça” (Gn 3,15). Outros textos do Antigo Testamento são evocados pela tradição dos Padres, como: “Ela é sem mancha” (Ct 4,7); “Jardim fechado e fonte selada” (Ct 4,12); “Bela como a lua, brilhante como o sol, temível como um exército em ordem de batalha” (Ct 6,10); Tenda do encontro com Deus (cf. Ex 31,1-11). Arca da Aliança (cf. Ex 25,10; 1Sm 4-6; Ap 11,19), entre outros.

            O sentimento espiritual do povo tinha captado cedo esta maravilha que Deus realizou em Maria, mas os teólogos necessitaram de muito tempo para deixarem tudo pronto, e o Papa poder declarar o dogma.

Por que e para que?

            Conforme o próprio decreto do Papa e da liturgia da missa a graça da Imaculada Conceição está a serviço da Encarnação salvadora de Jesus e de nossa salvação. A Imaculada é a “Pura Habitação” para o Filho de Deus e é “por nós, homens, e pela nossa salvação” (Missa da Imaculada).

            O dogma da Imaculada confirma a visão positiva da graça. Ela é anterior ao pecado, mais forte do que ele. Na Imaculada, a graça triunfou totalmente sobre o mal, desde o início. A Imaculada é a Nova Criatura; “Ela vem mais cedo que o pecado” (G. Bernanos).

            O povo fiel, convencido da graça salvadora de Cristo que tira o pecado do mundo, acredita na conceição imaculada de Maria. O Concílio Vaticano II ensina que Maria “foi redimida de modo mais sublime” (LG 53), isto é, preventiva e radicalmente.

            Crer que Deus fez a Virgem “cheia de graça” dá ao fiel confiança inabalável. Se Deus fez esta maravilha em Maria, Ele também pode realizar maravilhas em seu povo que nele acredita. A fé no dogma mariano desperta a confiança na misericórdia sem limites de Cristo. Esta misericórdia de alto a baixo, recria a humanidade pecadora. O perdão renova; “revirginiza” os que perderam a inocência. Se para a Virgem a graça foi anterior, para os fiéis é posterior, mas o efeito final é o mesmo: serão novas criaturas, “imaculados”.

            Maria Imaculada deve acompanhar sempre, como modelo, a luta de seu povo contra toda injustiça em nós e no mundo. Conforme a profecia, a Virgem foi “transpassada” pela espada (cf. Lc 2,35), mas ela não cedeu diante da dificuldade, diante do Sedutor. Ela foi sempre sim para Deus. Se nós, tantas vezes cedemos ao mal, às tentações do maligno, Ela nunca se deixou vencer. Disso tudo poderemos concluir que a Imaculada permanece, para nós, como exemplo máximo de lutadora, que não sofreu a menor derrota do maligno. Se no mundo e na experiência de cada fiel existe a realidade cruel do mal, no dogma da Imaculada está o sinal claro da vitória da graça e do bem. São Paulo lembra acertadamente que, “onde abundou o pecado, superabundou a graça” (Rm 5,20).

Concluindo

            A Igreja, na sua longa experiência de evangelização, não cede à tentação ilusória de que o mal e o pecado já estão vencidos. Ela tem consciência de que a luta continua. O mal e o pecado estão aí, e necessitam ser combatidos e vencidos. Mas também não é ingênua. Sabe muito bem que o “paraíso na terra” é um mito ingênuo e ilusório. Por outro lado, a partir de sua fé em Jesus Cristo, o Salvador da Humanidade, a Igreja não cessa de proclamar a Boa Notícia de que a graça está ao dispor de todos. Jesus já é o Vencedor. E, quem acredita nele será salvo.

            O dogma da Imaculada Conceição da Virgem Maria, a Mãe de Jesus Cristo, é a proclamação de que Deus fez, faz e fará maravilhas por nós homens e para a nossa salvação. Maria é modelo para todos os que seguindo os passos de seu Filho, acreditam e se lançam na luta para vencer o mal pelo bem, o ódio pelo amor, o orgulho pela humildade. Bendito seja o nome do Senhor!

Pe. Mário Fernando Glaab.

sexta-feira, 11 de agosto de 2023

Maria Assunta ao Céu.

 

A MÃE DE JESUS NO CÉU EM CORPO E ALMA

A Igreja tem como verdade de fé, dogma, que Maria, a mãe de Jesus, foi levada em corpo e alma ao céu. É o dogma da Assunção de Nossa Senhora. Mesmo que este ele foi proclamado somente no século XX, não quer dizer que antes os cristãos não tivessem esta certeza. Desde os primeiros séculos da Igreja os fiéis sabiam que a Virgem Maria está junto a seu filho Jesus na glória do Céu. O povo cristão nunca duvidou que, terminado o curso de sua vida terrena, ela foi para junto do Ressuscitado, seu filho Jesus que subiu ao céu. Restava, no entanto, aprofundar teologicamente o que isto significava. No que consiste este privilégio especial, já que se acredita que os mártires e santos de todos os tempos estão no céu?

            Mesmo não tendo clareza teológica, desde cedo os fiéis concluíram que a Mãe de Jesus, por graça especial de seu Filho, estava no céu de forma definitiva: em corpo e alma. Desenvolveu-se a concepção de que todos os falecidos no Senhor aguardavam a segunda vida de Jesus, para julgar os vivos e os mortos, quando então os justos ressuscitam com Cristo para estarem com Ele para sempre. Maria, todavia, não ficaria nesta “espera”. Ela já estava com seu Filho em toda a sua plenitude; por ser a Imaculada, a Cheia de Graça. Corpo e alma significa justamente isso: todo o seu ser, sem nenhuma ruptura ou divisão.

O povo fiel intuiu também que a Virgem Maria foi levada por Jesus, seu Filho, ao céu para estar com Ele para sempre. Isto faz eco ao “cheia de graças”. Não foi ela que subiu, porém foi levada. Aí a distinção entre ascensão e assunção. O Ressuscitado subiu ao céu (ascensão), Maria foi levada por Ele ao céu (assunção).

            Desde as primeiras comunidades cristãs, mas especialmente com a definição do dogma, ao contemplar Maria no céu em corpo e alma, quer-se exaltar aquela que sempre foi a “pobre serva do Senhor”. Busca-se, assim, por ela, uma aproximação do Deus que se fez pobre para “anunciar a Boa-Nova aos pobres” (Lc 4,18). Mais do que isso, aprender com a Pobre Serva do Senhor a ser pobre para que o Anúncio chegue também a todos e não seja impedido de nos tocar, por estarmos apegados aos bens, às riquezas e ao mal. Experimentar com Maria o que quer dizer: “Derrubou os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes” (Lc 1,52).

            A comemoração de Maria Assunta ao céu alimenta a esperança cristã. Cristo Jesus subiu para junto do Pai e prometeu preparar um lugar para os seus. É isto que o cristão espera. Assim, ao professar que a Mãe de Jesus já está no céu em corpo e alma, o fiel reforça essa certeza de fé. Maria, a primeira discípula de Jesus, aquela que guardava tudo em seu coração (cf. Lc 2,51), brilha como modelo para todos os que ainda estão a caminho, seguindo os passos do Mestre. Se ela pode fazer a vontade de Deus sempre, os discípulos hoje também podem fazê-la, e sonhar com a glória do céu.

            E por último, esse dogma incentiva a prática da oração a Maria, pedindo sua intercessão. A Igreja sempre tem como certo que uns podem e devem rezar pelos outros – a comunhão dos santos. Ao apresentar Maria Assunta ao Céu para o mundo, ela a indica como a Intercessora por excelência. Se Deus escuta a oração que nós pecadores fazemos uns pelos outros, quanto mais há de escutar a oração de sua Mãe que foi preservada de todo pecado! Rezemos sempre a Maria: “Rogai por nós pecadores, agora e na hora de nossa morte”.

Pe. Mário Fernando Glaab.

terça-feira, 6 de junho de 2023

Nova maneira de pregar e testemunha a fé cristã.

 

                                             OBRIGAÇÃO E PROIBIÇÃO

Uma pregação desatualizada

            Não há como esconder: nos dias de hoje o cristianismo, e mais concretamente nossa Igreja, está enfrentando uma enorme crise. As nossas celebrações são cada vez menos frequentadas. Nossos discurso e ensinamentos não estão encontrando a resposta que no passado encontravam. O interesse, especialmente dos mais jovens, se tornou outro. Com exceção de algumas pregações de cunho mais carismático, a grande maioria não atinge mais o povo em geral. Cada igreja se deve contentar com aquelas poucas pessoas que ainda se fazem presentes.

            Não tenho condições para analisar as causas deste fato. No entanto, pretendo fazer apenas uma pequena reflexão a partir de minha própria experiência e de algumas leituras que faço sobre o assunto.

Novos tempos, novas mentalidades

            Se a sociedade, até alguns anos passados, aceitava uma apresentação da religião como uma obrigação, e consequentemente com o poder de proibir; hoje isto não funciona mais. Os pais e educadores diziam “você deve”, ou “você não pode fazer isto, é proibido”. Os mais jovens aceitavam sem questionar ou se opor. Porém, atualmente isso não é mais aceito.

            Hoje, cada vez mais as gerações jovens se opõem às obrigações e às proibições. Há uma mentalidade muito difundida de que a liberdade consiste em não aceitar o que os mais velhos dizem. Ser livre – dizem – é decidir tudo por si, “experimentar” tudo; mesmo que existam instruções contrárias, alertando do perigo que se esconde por trás destas experiências desconhecidas. Diante do “você deve” dizem “não quero”, e diante do “proibido”, “sou livre, vou fazer”.

            As religiões, no nosso caso, a fé cristã, não escapam desta nova maneira de ver as coisas. Já não se acata a mais insistência com as pessoas com o “você deve” ou com o “você não deve”. A fundamentação há de ser outra, partindo de outros princípios. Uma simples argumentação lógica não tem mais a força que tinha no passado. No contexto em que a sociedade se encontra, cada vez mais favorecendo o individualismo, os jovens precisam experimentar, pois explicações têm pouca força. No entanto, as experiências mal escolhidas, não poucas vezes, os levam para os desvios e para os vícios que, depois são muito difíceis de se corrigir.

Jesus, o Homem livre

            É muito interessante notar como a pregação do Evangelho sempre apresenta a liberdade como o grande valor a ser descoberto em Jesus de Nazaré. Porém, com o passar do tempo, este valor ficou na sombra. A pregação se concentrava em ensinar o que se pode e o não se pode, chegando a se tornar moralismo doentio. Jesus, na verdade, é o homem mais livre que conhecemos. Ele sempre optou livremente em fazer a vontade do Pai ao ponto de afirmar que “o meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou” (Jo 4,34) e nunca se desviou deste propósito. Mesmo que isto lhe custasse a entrega total de sua vida. Ele morreu na cruz como consequência de seu amor sem limites livremente assumido, diante do Pai e diante da humanidade.

            Nunca ninguém conseguiu desviá-lo de sua missão assumida na encarnação. Veio para anunciar a todos a boa notícia de que Deus quer a liberdade total de todo o ser humano. Foram muitas as tentações que ele enfrentou, tanto dos inimigos quanto dos próprios amigos. Todavia, nada afastava Jesus de seu projeto, nada era capaz de suscitar-lhe a ira e passar para o ataque, a não ser a exclusão ou a desvalorização de qualquer homem ou mulher. Certamente o momento mais duro foi quando na cruz o insultam desafiando-o para que descesse da cruz. Ele não se deixa vencer, mas entrega o seu espírito (cf. Lc 32,46).

O outro lado

            É mais do que necessário, em nossos tempos, redescobrir em toda a sua pureza, o valor inestimável da verdadeira liberdade. Aquilo que a maioria dos jovens procura, mas não encontra, provavelmente seja isto. Eles não conseguem vê-la nestas maneiras como ela ainda é apresentada. São levados por um imediatismo alienante. Infelizmente a mídia tem grande culpa nisso. Bombardeia o tempo todo sobre as gerações mais jovens, oferecendo prazeres momentâneos, colocando ideias falsas, provocando revoltas...

            É preciso redescobrir a beleza do amor verdadeiro; e, junto com ela, a liberdade que lhe é própria. Jesus precisa ser redescoberto. Mais do que isto: necessita ser seguido, “experimentado” na prática da doação. Isto pode enlevar as pessoas também hoje, quando na sinceridade são amadas e compreendidas. Quando são levadas a tocar de perto o ensinamento e a prática de Jesus de Nazaré; este Jesus, que na Eucaristia se faz o alimento para todos aqueles que, neste mundo transtornado pela incredulidade, o desejam seguir. Com pesar constata-se que há inversão das coisas quando se prega que se deve, por obrigação, participar da Eucaristia, uma vez que não há algo mais absurdo do que falar em obrigação de participar no dom supremo de Cristo no rito sacramental. Esta inversão é perversão, pois assim o dom da alegria da liberdade se converte em carga, que os jovens não aceitam mais. O que acontece é que se perde a experiência original, gratificante e motriz, para ficar somente com o peso das obras e com a obrigação da lei.

            Nada é obrigação para quem ama; tudo é proibido para quem odeia.

            E quero concluir com uma citação de um teólogo que admiro muito: “De nós, cristãos, se exige demonstrar que o Reino dos céus se realiza quando – e somente quando -, já na terra, também os crentes se esforçam para conseguir que a justiça, a liberdade e a fraternidade reinem entre os homens: entre todos os homens e, portanto, antes de mais nada, entre os marginalizados, os oprimidos e os que sofrem” (Queiruga, Creio em Deus Pai, p. 200), como fez Jesus de Nazaré.

Pe. Mário Fernando Glaab.

sexta-feira, 26 de agosto de 2022

O lugar do cristão na história humana

 

O Reino de Deus na História Humana

 

            Parece que em nossos dias, cada vez mais, desaparece a necessidade de Deus. Deus ficou distante da vida e da história das pessoas. Elas estão muito preocupadas com tantas coisas, e não sobra mais espaço para Deus. Quando muito, Deus é visto pelas costas, isto é, como se já tivesse passado; ser algo do passado. Claro que, em momentos de grandes dificuldades, apela-se para este Deus do passado, o Deus das tradições e, pensa-se que talvez agora ele possa intervir, uma vez que há necessidade premente de se resolver determinado problema. É o grito de socorro na hora do apuro. Lembranças daquilo que os pais ou avós diziam, e que volta somente no momento de provação.

            Diante disso, como deve ser a atitude do cristão que quer ser autêntico? Ver Deus pelas costas, tem algum sentido? Penso que sim. Porém, podemos distinguir duas maneiras de ver Deus pelas costas. Uma é justamente esta que muitas pessoas praticam, colocando-o no passado, como uma peça que está no museu, mas que, conforme o momento, pode servir para solucionar casos complicados. Todavia, as preocupações diárias deixam Deus para outra hora. Não têm tempo a perder com ele. Mas a outra maneira de ver Deus pelas costas é frontalmente oposta. É a dos que o veem na frente. Ele vai à frente da humanidade que está caminhando entre desafios, fracassos e sucessos. Ele avança, e convida os seres humanos a segui-lo. Estes últimos nunca deixam de vê-lo, mesmo que, às vezes, gostariam de ver sua face, e não somente as costas. Porém, as costas dele dão impulso para que não se acomodem diante das muitas distrações que o mundo continuamente apresenta. Não dispensam as atividades do cotidiano, mas fazem-nas com um sentido diferente. Cada uma delas os ajuda a avançar em direção daquele que está adiante.

Jesus fala para este mundo

            Será que Jesus de Nazaré também ainda tem algo para dizer a este nosso mundo? Jesus, em sua época, enfrentou uma situação que parecia estar tranquila: havia a Lei que dava a segurança religiosa para quem queria ser fiel. Ao menos os líderes religiosos de seu tempo ensinavam isso. Jesus veio com nova proposta, vista por muitos com desconfiança; e até provocou reação, perseguição e condenação. Que fez Jesus? Ele falou sobre Deus Pai Misericordioso para com todos quando muitos achavam que não precisavam de um Deus assim. Já sabiam o que era preciso observar: a Lei. Jesus colocou Deus na frente e não no passado. Foi anunciando e vivendo este Deus “na frente” até as últimas consequências. Ele o seguiu com sua maneira de agir, e convidou a quem o ouvia, a fazer o mesmo. Dessa forma, ele trouxe, mesmo que não percebido pelos distraídos, uma realidade nova do alto, a presença do Reino de Deus na história concreta de um mundo tão dividido e tão cheio de pecados.

            Assim também hoje, Jesus, por meio dos cristãos, continua a falar de Deus Pai Misericordioso para um mundo que acha não necessitar dele. Cada cristão e cada cristã têm a incumbência de dizer às pessoas entretidas com as suas preocupações que nesta história humana concreta de hoje, Deus está à frente. Ele, em Jesus de Nazaré, o Cristo, tem um projeto de vida, e de vida em abundância para todos. Isto pode (e deve) provocar reações dos que estão apegados aos seus confortos, aos seus comodismos, assim como Jesus sofreu reações. Alguns serão perseguidos e até condenados. Contudo, é assim que se mostra a presença do Reino de Deus também em nossa história humana de hoje. Jesus presente por meio dos que o seguem verdadeiramente, não somente com palavras, mas com sua maneira prática de viver.

Testemunho cristão

            Jesus de Nazaré não provou com documentos sua filiação divina e nem a presença do Reino de Deus nele. Ele o mostrou, para quem tinha olhos para ver, com a sua praxe, com o seu jeito de ser e de agir. Ele estava no meio de seu povo, principalmente entre os que eram excluídos por aqueles que achavam não precisar do Reino. Viveu na história de seu povo sofrido, despertando esperança ao apontar para a bondade de Deus. Assim ele “provou” em sua vida que o Reino de Deus estava aí, próximo dos que mais precisavam dele.

            Em nossos dias não pode ser diferente. Existem tantos que, à margem da sociedade e da história, anseiam por esperança, anseiam por vida. Para estes, como para todo o mundo, o cristão deve “provar” a proximidade do Reino de Deus, reino de justiça, de perdão, de vida e de paz. O cristão de hoje igualmente não carrega documentos probatórios deste Reino, mas não deixa de mostrar continuamente Deus na frente, como Jesus o fez. Ele sabe muito bem que não pode fugir da realidade: está envolto por limitações, pecados e desafios, porém, não se dá por vencido. Tem consciência de que esta história concreta tem uma finalidade: seguir, como Jesus – passando pela morte para chegar à Ressurreição -, buscando e experimentando o Reino de Deus cada dia. O cristão está na história, sim; mas olha sempre para frente onde Deus o precede.

Jesus, o Reino e o Cristão

            Jesus se identifica como Filho do Pai diante do Reino. Quer dizer, nós o podemos identificar por estar anunciando e vivendo o Reino de Deus. A sua palavra e sua ação revelam quem ele é. A saída de si em vista do Reino, o identifica Jesus como pessoa, o Cristo. Igualmente o cristão é identificado por sair de si em vista do Reino. Não é possível ser cristão sem estar em saída. Ser cristão fechado em si mesmo, isolado dos irmãos de todas as situações do mundo, não existe. É falso. Imaginar um cristão encapsulado na sua piedade sem compromisso com a história de seu povo, é grave engano, é ilusão.

            Que cada cristão tenha coragem de seguir a Cristo Jesus e, no seu seguimento, atualizar suas palavras e seus gestos de misericórdia e piedade, testemunhando um Deus que está à frente, sempre de novo para um mundo que pensa não precisar dele. Alimentar a esperança no Novo Céu e na Nova Terra que descem do alto.

Pe. Mário Fernando Glaab

quinta-feira, 3 de março de 2022

APRENDER VIVENDO

 

RELAÇÕES COM DEUS E COM OS SEMELHANTES

 

            É verdade que é preciso se comunicar. Ninguém pode viver sem comunicação, e isso com os semelhantes e com o Transcendente. Porém, antes de se comunicar é necessário haver relações. E, para ter relações com um outro, não pode faltar conhecimento, ao menos do básico.

 

Conhecimentos

            No processo de conhecer alguém pode haver duas maneiras: uma que vem de afirmações teóricas e outra da experiência, ou do contato, da convivência. Pode-se aprender muitas coisas sobre alguém, e a partir disso, estabelecer relações. Por outro lado, no entanto, é possível, por meio de contatos, ir aos poucos se relacionando e se aprofundando nelas, sendo isso outra dimensão. São conhecimentos que influenciam enormemente nas relações entre nós e Deus. Quais são melhores?

            Até pouco tempo dava-se muita importância para o conhecimento intelectual, ou melhor, teórico. Procurava-se conhecer as coisas pelo que são, deixando na sombra o que têm a ver conosco. Nas últimas décadas o interesse pelo conhecimento se voltou mais para o conhecimento prático. Muito mais do que se perguntar sobre o que é, pergunta-se sobre o que a coisa pode significar para nós, qual a sua utilidade concreta. Este último modo de conhecer, vem da experiência ou do contato direto com a coisa. Não de ideias abstratas, mas de acontecimentos da história.

 

Na teologia cristã

            A teologia cristã, como não podida deixar de ser, também está neste contexto. Igualmente, como os demais saberes, ela foi atingida por estas maneiras de pensar. Durante muito tempo dava-se muita importância à doutrina sobre Deus, sobre Jesus Cristo ou sobre a Igreja; hoje, muito mais do que ficar em doutrinas (que não podem ser dispensadas!), foca-se o interesse em “experimentar” Deus, Jesus Cristo e a Igreja.

            Nada melhor, para entender a reviravolta, olhar para a metodologia de Jesus que se encontra nos evangelhos. Ele não expos altas doutrinas sobre Deus aos seus discípulos – que aliás, não tinham as mínimas condições para isto -, porém, falou do que ele mesmo vivia. Convivendo com eles, convidava-os a “experimentar” a sua maneira de viver, o seu conhecimento de Deus e do próximo. A Deus ele experimentava como Pai bondoso e o próximo, em consequência disso, como o irmão querido. Foi assim que os discípulos aprenderam algo sobre o Deus de Jesus e sobre o que é o semelhante, principalmente o mais pobre. Jesus, na sua experiência de Deus relacionava-se com Ele filialmente; e na sua experiência com o semelhante, relacionava-se fraternalmente. Isso ele ensinou e mostrou para quem o seguia.

            Na verdade, Jesus, no seu projeto de vida, anunciou o Reino de Deus, mais, ele o trouxe para junto dos seus. Os discípulos ouviram muitas explicações sobre o que é este Reino, porém, o sentiram concretamente agindo neles e entre eles, onde Jesus era acolhido e seguido.

 

Nossa Catequese

            O grande desafio para a Igreja hoje é anunciar com sentido a Boa-nova de Jesus para este mundo cada vez mais desinteressado dos valores que vão além do imediato. Concretamente pergunta-se como devem ser as pregações e a catequese em nossas comunidades?

            Sem dúvida, também as pregações e a catequese devem levar em conta as mudanças de nosso tempo. Não basta dizer muitas coisas, mesmo que sejam corretas. É preciso fazer com que as pessoas as experimentem, as saboreiem. Ter Jesus de Nazaré como o nosso Mestre nos ajuda muito. A pregação e a catequese, antes de ser doutrina, hão de ser, a exemplo de Jesus, vida. Os que ouvem uma homilia ou frequentam a catequese hão de ser envolvidos no que ouvem. Não devem ficar, como alunos, sentados nas carteiras, mas junto com o “mestre” serem levados a experimentar as verdades aí anunciadas.

            Nem é preciso dizer, a esta altura, que tanto os pregadores quanto os catequistas devem ser, em primeiro lugar, discípulos do Homem de Nazaré. Somente assim, no seguimento de Jesus, é que podem transmitir seu relacionamento com Deus e com o semelhante. Conhecendo, se estabelecem novas relações. Estas relações são compartilhadas.

            Concluindo, podemos dizer que “Deus encontramos em nossa própria humanidade”. Quer dizer, lá onde podemos nós nos relacionar; e, da mesma forma, o próximo encontramos igualmente em nossa humanidade. Do jeito como somos.

Pe. Mário Fernando Glaab.

quarta-feira, 13 de outubro de 2021

ESPÍRITO DA UNIDADE NA DIVERSIDADE.

 

UNIDADE NA DIVERSIDADE

 

                        “E todos nós os escutamos, anunciando as maravilhas de Deus em nossa própria língua” (At 2,11). É assim que se descreve a maravilha de Pentecostes após o Espírito ter repousado sobre os que estavam reunidos em Jerusalém. O espanto e a perplexidade dos que ouviam esta maravilha foi enorme. Que significa isso? Perguntavam-se. Porém outros não viam nada de extraordinário, faziam pouco caso e até zombavam.

Unidade e divisão

                        Diante do acontecido em Pentecostes é fácil perceber que existe diferença entre unidade e divisão. O fruto do Espírito foi a unidade para os que o receberam, seja na descida, seja no testemunho dos apóstolos. O contrário – a divisão – foi o que aconteceu com os que zombavam. Uns se admiravam e, mesmo espantados, viam um sinal do alto; e sentiam-se cheios do Espírito de Deus. Outros, mais do que não ver, se opunham. Criticavam maldosamente e classificavam todos de bêbados.

                        Assim aconteceu, e assim continua a acontecer. Por um lado, existem as pessoas que se abrem aos apelos do espírito, e por outro os que se opõem, tentando destruir o que o Espírito constrói. Como se pode constatar, também hoje temos construtores de união, assim como destruidores dela. Os que acolhem o Espírito, nem sempre conseguem superar todos os obstáculos que se interpõem. Porém, os adversários, além de não ajudar, sempre destroem, e fazem tudo para que as coisas vão de mal a pior. Sentem-se perturbados quando encontram pessoas unidas. Contudo, não é sobre isso que queremos refletir. A questão é outra.

Diversidade – Ouviam em sua própria língua

                        Às vezes, quando se coloca o Pentecostes em paralelo ao acontecido em Babel (cf. Gn 11,1-9), cai-se na tentação de pensar que o Espírito fez com que todos falassem a mesma língua (até pode-se dizer que falavam todos a mesma língua do amor!), mas na verdade, não é isto que diz o texto sagrado. Lá se fala que todos entendiam em sua própria língua. Caso a língua do Espírito seja a língua do amor; o que se diz, é que este é entendido por cada grupo na sua própria cultura, na sua maneira de ver as coisas. Sempre à luz do Espírito inspirador. É justamente aí que reside a diversidade das línguas, a diversidade do amor que une em um só Espírito. Bem diferente da confusão ou da divisão que tomou conta dos orgulhosos que quiseram construir a Torre de Babel. Estes se dispersaram por toda terra, pois não se entendiam mais: estavam confusos. Não se entendiam em sua própria língua.

                        Então, a maravilha que provocou pasmos e perplexidades nas numerosas nações que ouviam os discípulos de Jesus cheios do Espírito Santo, não cancelou de suas próprias línguas. Superou as limitações de cada nação. Criou unidade na diversidade. É bom saber que o Espírito não abole as línguas, não instaura uma língua única, permite a cada um entender na sua própria língua a boa notícia do Evangelho. Esta verdade é assaz importante para a Igreja e para qualquer grupo cristão. Nunca se deve abolir a língua – os valores – dos povos, das tradições e dos costumes. O que é preciso, à luz do Espírito, é procurar entender, cada um em sua própria língua, o que o mesmo Espírito Santo produz em cada um e em cada grupo, sejam eles cristãos ou não. O Espírito age como o vento: ouve-se sua voz, mas não se sabe de onde vem, nem para onde vai (cf. Jo 3,8). Não queiramos, por causa da unidade, passar por cima da diversidade. O Espírito não se deixa prender em nossas maneiras de ver, em nossos grupos. Ele é o Espírito da Liberdade que quer nos conduzir para a Verdade plena.

Pe. Mário Fernando Glaab.