domingo, 23 de dezembro de 2012

Pensamento natalino

Para pensar sobre o Natal

     "O Natal nos quer comunicar que Deus não é aquela figura severa e de olhos penetrantes para perscrutar nossas vidas. Não. Ele surge como uma criança. Ela não julga; só quer receber carinho e brincar" (Leonardo Boff).

domingo, 16 de dezembro de 2012

Dízimo - bênçãos e graças

DÍZIMO: FONTE DE BÊNÇÃOS E DE GRAÇAS
Pe. Mário Fernando Glaab
            Dízimo está ligado com bênção e graça. Desde o Antigo Testamento criou-se a mentalidade do dízimo como resposta aos dons de Deus para o seu povo. Dar o dízimo atrai novas bênçãos e graças de Deus e tudo irá bem (cf. Ml 3,10). No Novo Testamento aprofunda-se esse aspecto ao se afirmar que “Deus ama quem dá com alegria” (2 Cor 9,7). A questão merece ser atualizada, uma vez que hoje a teologia da prosperidade está conquistando sempre mais fiéis menos informados, provocando confusão entre igrejas, e mesmo, entre os diversos segmentos da Igreja Católica. Essa teologia ensina que é próspero aquele que observa as leis, e o contrário também é verdadeiro. Movimentos de linha mais “carismática” privilegiam a visão da recompensa; movimentos de linha mais libertária e comprometida com a realidade dos pobres privilegiam a visão da colaboração que abre o coração para acolher sempre mais o amor de Deus.

Deus se doa sempre e o ser humano deve acolher sempre.
            Deus que se revela progressivamente ao ser humano, conforme a capacidade dele, mostra-se como aquele que ama incondicionalmente. Não exige nada em troca de seu amor. Ele é só amor. Isso quer dizer que, em contrapartida, o ser humano não pode “comprar” nada de Deus, pois, ele não vende nada. Não existe nenhuma forma de barganha entre o ser humano e Deus, uma vez que Deus não se deixa vencer em generosidade. É sempre ele que se antecipa a tudo que suas criaturas necessitam para que tenham vida, e vida em abundância (cf. Jo 10,10). Fazer a experiência desse amor de Deus consiste em acolhê-lo. Acolher o amor de Deus não é passividade, mas atividade. Somente se experimenta, sempre limitadamente, o que Deus reserva para nós quando amamos o próximo e todas as formas de vida. Ou então, quando o amor de Deus se torna ação em nós – quando o amor de Deus, revelado em Jesus de Nazaré, produz frutos bons para a salvação do mundo. Jesus o deixa bem claro quando diz que em primeiro lugar se deve praticar a justiça e o amor de Deus, sem omitir os “dízimos” (cf. Lc 11,42). A observância dos mandamentos, das leis, doação dos dízimos, ofertas, etc., tudo deve consistir em exercícios que abrem o ser humano para o amor sem limites de Deus. Quanto mais o ser humano se doa por amor, tanto mais ele experimenta e acolhe o Deus que é só amor.

Deus conta com o ser humano para implantar o seu Reino
            Jesus anunciou o Reino de Deus presente em nosso mundo. Ele o testemunhou até as últimas consequências. Mas, por outro lado, por amor, conta com todas as pessoas de boa vontade para que a sua obra possa atingir a toda criatura. Mais uma vez, pode-se afirmar, sem medo de errar, que o melhor “dízimo” que se pode dar a Deus é acolher a proposta de Jesus de Nazaré e se fazer anunciador e colaborador do Reino de seu Pai. Quanto mais alguém doa de si e de seus bens para que o Reino de Deus possa estar e crescer neste mundo, tanto mais ele experimenta e acolhe as graças de Deus. Isso não tem nada haver com prosperidade no sentido de não ficar doente ou ter sucesso nos negócios, muito dinheiro e bens materiais. A prosperidade que vem da gratuidade de Deus há de lhe proporcionar a certeza de estar no caminho certo e de estar colaborando na construção de um mundo mais justo, fraterno e humano, onde os irmãos podem viver na presença de Deus.

Dízimo não é pagamento.
            Dentro dessa visão, dízimo não é pagamento. Muito menos uma “antecipação pecuniária” a Deus para obter dele soluções para os problemas da vida que precisam ser enfrentados por cada um. Como já afirmamos, Deus não precisa e nem quer o nosso dinheiro e o nosso sacrifício para com ele se beneficiar. O que ele quer, e convida instantemente, é que acolhamos seu amor e o façamos produzir frutos em prol do mundo. O mundo é obra de seu amor. E que cada um o acolha com o seu jeito de ser, assim como é. Então, seguindo o exemplo de Jesus, ao nos doarmos e darmos algo do que é nosso, estamos contribuindo gratuitamente para que uma nova realidade onde a vida plena pode florescer para todos se instaure sempre mais.
            Necessita-se de cuidado especial para não desdizer os que veem o dízimo como fonte de bênçãos e de graças. Sempre aprendemos que Deus sabe recompensar qualquer gesto de bondade, por mínimo que seja (cf. Mt 10,42), mas que o entendamos bem. Mesmo que Deus não aceite pagamento, nem antes e nem depois de nos dar seus dons, ele cumula seus amigos com a graça de o experimentarem na gratuidade. Quer dizer, quem dá o seu dízimo com generosidade, faz seu o amor de Deus. Essa é a maior bênção e a maior graça! Quanto mais alguém se doa, mais ele é abençoado e agraciado. Ser abençoado não quer dizer que está imune dos sofrimentos que atingem a todos os humanos, mas é alguém que age impulsionado pela bondade de Deus. Bênção é uma graça concedida por Deus, é a ação de Deus na vida de uma pessoa, que pressupõe que a mesma acolheu Deus e que se abriu para a ação dele em sua vida.

Mostrar o amor de Deus
            Jesus mostrou até onde vai o amor de Deus por nós. Hoje somos nós que precisamos mostrar esse mesmo amor de Deus ao mundo. São tantas as maneiras de fazê-lo. Sem dúvida, a nossa doação em prol da comunidade paroquial onde residimos é um sinal eficaz desse amor divino. A Igreja, que por vontade de Cristo é sinal universal de salvação (cf. LG 129), se concretiza para nós na comunidade onde os fiéis se reúnem e onde vivem no dia-a-dia sua vida cristã. É lá que o fiel vai mostrar que Deus é amor. O dízimo é, então, muito mais do que pagar os serviços religiosos que da comunidade se recebe. Ele é o resumo de tudo o que o fiel crê e vive do amor concreto de Deus. Com o seu dízimo ele mostra que acredita que na comunidade o Reino se faz realidade, por mais limitadas que sejam as pessoas que a compõem. O dízimo é sinal de sua doação de sua colaboração.
            Na comunidade o fiel experimenta o amor gratuito de Deus que, por sua vez, passa pela convivência fraterna. Também na comunidade, ao se doar fraternalmente e doar do que é seu, o amor de Deus passa adiante; outros também o poderão experimentar. É a comunidade como um todo que se torna sinal eficaz e, o fiel que colabora com seu dízimo ajuda na construção do Novo Reino.
            Dízimo é generosidade, é doação, é bênção, sim. Bem entendido, é vida para todos. Vida comprometida com o projeto do Deus de amor que cria, mantém e salva por amor todo ser humano, e quer que todo ser humano acolha e compartilhe o mesmo amor.

sábado, 15 de dezembro de 2012

Scheene Weihnachtszeit

WEIHNACHTE IN DE KOLONIE
Wie mea noch Kinnacha wore do wo es doch alles viel anneschta. Mea hon doch in de Kolonie gewohnt, wo doch die Leit all ormche wore awe doch zu friede, un aach gut religiesich. In de selwiche Kolonie hon Katholische un Evangelische Familie beisamme gewohnt. Die Kinna hon imme mit samme gespielt un die grosse hon sunntachs do gehuckt un Schimaron gelapscht. Iwe alles is gesproch geb, iwas Wetta, iwa das Vie, iwa Gesundhet, un aach alsmols iwa Religionsgeschichte. Wenn die Weihnachtszeit kum is do hon di Kinna jo doch viel vun de Geschenka gesproch, wose grin solte wenn se sich gut geschickt here. Dat wo alles spannent. Die Eltere hon aach Plene gemach wie sie in die Kerich kehme: die katholische in die Mess un die Evangelische in de Gottesdienst. No dem hon se aach gepleent was desse packe teere: Kuche, Toss, Weissbrot, un epse va das Mittachesse en Schuraske odda en Galinhode mache teere. Wo en Familie woa wo net gut dran wo, do honse sich samme gemach un hon denne aach en stick Fleisch odde Weissmehl rumiert, fa dass keene ohne Weihnachte geblieb is. Das woa doch so scheen!
En odda zwoi Toche foa de Weihnachte is das Kristbeimje gemach woa. Do is alle Schmuck drohn gehonk woa: Kuchle, Kette, Ketzja, Farwichespapia, un noch viel Aneres. Uff de Heilicheomht sin dan die Leit in die Kerich. Das woa doch die grescht freit fa die Kinna un fa die Juchend. Schun lang defoa des die Kerich on gang is wore se dat. Die Kinna sin dorum geschprung, un die Junge hon sich getroff fa se prose un aach fa bisje riwa un niwa no de Med ze gucke. Das woa alles so pua un rein; do hot keine Schlechtichkeite in Sinn gehat. Fa de Kinna die Geschenka se brenge honse vun Kristkinntje gesproch. Dea Weihnachtsmann is im zweite Platz geblieb. Die Kinna hon das gleich gewuscht des Weihnachte dem Kristkinntje sei Geboatstoach is, un des das es Haupte vun Fescht is. Wenn die Kinna dan nachts am schlofe wore is das Kristkinntje komm un hat die Geschenka uff de Tisch gelecht odda unna das Kristbeimje. Moiens wenn die Kinna uffgestie sin un hon dan die Geschenka geguckt, do woa blos noch Freit. Wenn das aach blos Kleinichkeite wore, awa fa die Kinna woa das alles gut. Die Mamma hat de Kuche ferschnitt un en gute Kaffi gemach. So Erlebnisse hatte die reiche leit siche net! De ganse Toach dorich wore die Leit froh: hon sich besucht un gut gess.
Schoot dass es nimma so is. Heitsentoche schpreche die Leit jo blos noch vun Papainoel un uff dea grosse Toche tunse sich vollfresse un vollsaufe, un keine kimmat sich um de Neschte. Die Kinna tun konet me mit samme so einfach spihle, sin doch blos noch me am Komputadoa. Un das Kristkinntje is gans vorgess!
Weihnachte wore gute un scheene Zeite!
Glaabmário
www.marioglaab.blogspot.com.br

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Para refletir

PENSAMENTO
            Os pobres não são melhores que os demais, mas os ricos certamente são piores! Por isso a opção preferencial pelos pobres. A Igreja tenta fazê-la sempre de novo, porque Jesus de Nazaré fez dessa opção o norte de sua vida.

sábado, 24 de novembro de 2012

Reflexão natalina

NATAL: JESUS ENTRE OS ÚLTIMOS

Pe. Mário Fernando Glaab

            Cada ano se repete o dia do Natal. Para alguns ele é aguardado, para outros nem tanto. Para os cristãos o Natal tem significado todo especial. É a comemoração na qual fazem memória da presença humana de Deus no mundo e com o mundo, desde que Jesus nasceu até hoje e pelos séculos futuros. Cada cristão, além de reavivar a fé na presença de Deus no mundo, sente-se desafiado a levar essa notícia para todos os que ainda não creem nela. Deve compartilhar o Natal.
            Pergunta-se, no entanto, se o homem de hoje ainda se deixa impressionar pelo discurso tradicional que partia das verdades dogmáticas ensinadas durante muitos séculos, quando a visão do mundo era muito diferente de como é agora. Para o mundo hodierno, onde as pessoas estão envoltas em intermináveis questões de ordem social, moral, religiosa, política, econômica etc., ainda tem sentido dizer que o Deus eterno e todo-poderoso deixou o céu para, em Cristo Jesus, trazer a salvação ao ser humano? Falar isso para quem não conhece Deus, para quem só conhece dor, decepção, vícios, drogas; para quem não experimenta o calor da família, para quem não sente apoio e carinho de uma comunidade; para quem só sabe que no mundo existe roubalheira, exploração, corrupção, traição, injustiça, ou que vê as igrejas se digladiando entre si tentando atrair mais fiéis, prometendo resolver todos os problemas em troca de pesados dízimos, tem algum sentido? Anunciar para meninos de rua, para jovens drogados, para famílias separadas, para idosos abandonados, para pobres sem esperança, que esse Cristo nascido em Belém há dois mil anos expulsou demônios e que ele pode milagrosamente solucionar tudo isso, tem sentido? Mesmo que as igrejas estejam cheias de fiéis, estejam iluminadas e bastante enfeitadas, mesmo que nas casas se destaquem papais-noéis, as músicas soem por todos os lados, a mensagem natalina não será entendida e menos ainda, acolhida por esse mundo que tanto precisa dela. Que fazer?
            A verdade a ser celebrada e anunciada é sempre a mesma: Deus está conosco, está em nosso mundo, junto a todo ser humano. Ele veio para ficar. Ele é o Deus-Conosco: Jesus Cristo, o Salvador e, ele quer atrair todos a si. Tem palavras de salvação para todos, a começar pelos mais necessitados, os pobres de todos os rostos. A questão toda está em atualizar esta verdade para o tempo e o espaço que é o nosso. Levar a mensagem para fora dos templos, para as casas, para as ruas, para as cidades e para os campos, lá onde a maioria das pessoas está. Pouco resolve dizer para quem se encontra em situação de extrema necessidade que Deus o ama e que ele deve ser procurado na igreja no dia do Natal. Isso vira afronta desrespeitosa do miserável!
            A proposta mais viável talvez seja a de seguir os mesmos passos que os evangelhos de Mateus e de Lucas dão ao falar do nascimento e da vida pública de Jesus de Nazaré. Eles não usam altas teologias para falar do mistério, mas, na simplicidade falam do nascimento de um menino que não teve onde nascer; apresentam seus pais na mais na mais conflituosa situação, diante de Deus, da religião e das pessoas; falam da vida desse homem que, quando crescido, soube se colocar em favor da vida dos mais miseráveis, daqueles nos quais ninguém mais confiava, dos rejeitados por Deus e pelos observadores das leis religiosas. E o fez a tal ponto de enfrentar todos os obstáculos que encontrou até as últimas consequências: deu literalmente a sua vida por essa causa. Foi condenado à cruz em meio a esses miseráveis. O fez para que todos tenham vida; entendendo vida em dignidade e em plenitude. Os evangelistas chamam esse sonho-realidade de Reino de Deus.

Proposta atual
            Para que esse anúncio natalino seja atual para o homem e mulher de nossos dias e de nossa sociedade ele precisa de inserção na vida de cada um deles. Descer o anúncio das torres das igrejas, dos mercados, das lojas, das árvores enfeitadas. Os evangelistas fizeram-no em seu tempo, a Igreja ao longo dos séculos tentou fazê-lo, hoje os cristãos também precisam encontrar o jeito. Em paralelo aos relatos bíblicos, hoje se pode chamar a atenção sobre o casal, José e Maria, que em situação irregular não abandona a missão de pai e de mãe, mesmo que o mundo os emplaca de atrasados. José que não deixa sua noiva quando ela aparece grávida – não dele –, aparece com muita atualidade; Maria que aceita a vida em seu seio, mesmo não sabendo onde isso a iria levar, é mais do que atual! Quantas jovens mães solteiras passam por situações semelhantes? Quantos moços, quando ficam sabendo que a moça com quem “ficaram” está grávida, são tentados a sumir? O desprezo que o casal experimenta por ser pobre, a perseguição, o trabalho duro, tudo pode lembrar casos e mais casos bem atuais. Essa história, por ser tão atual, não deve ser contada como do passado, mas anunciada como a realidade presente hoje. É a vida de cada um e de cada uma, por pior que possa parecer. Nessa realidade, nua e crua, é preciso dizer que “Deus está conosco”. O anúncio se torna presença somente lá onde o cristão o pratica. Assim como Jesus, como José e Maria, o cristão deve se tornar anunciador da boa notícia para os “pastores” de hoje. Deve estar lá onde eles estão, compartilhando de suas vidas, compartilhando os seus problemas; ajudando-os a vencer os demônios que os possuem, anunciando-lhes o perdão dos pecados e prometendo-lhes vida nova com muita esperança no Pai que instaura constantemente o seu Reino neste mundo.

Ao mistério de Deus por outro caminho
            Com essa proposta não se nega em nada o mistério de Deus entre nós que se celebra no Natal. Quer-se apenas chegar a ele por outro caminho, pelo caminho dos que ocupam o primeiro lugar no Reino anunciado e vivido por Jesus: pelo caminho dos pobres e abandonados. Ao experimentar com eles e neles um pouco do verdadeiro amor, chega-se, sem dúvida, ao que é central no mistério do Natal e de Jesus, ao Amor infinito de Deus presente no mundo. Se o mundo já não consegue mais entender discursos dogmáticos e abstratos sobre Deus, sobre o seu poder e sobre a moral cristã, ainda pode entender e aceitar a linguagem do amor vivido e compartilhado na verdade e na pureza do coração. Por esse caminho talvez seja possível chegar e levar ao Deus que é Pai, que é Filho e nosso irmão, que é Espírito porque está presente em todos os lugares. Também os que não estão no mundo do consumismo estão nesse caminho. Podemos até dizer que eles são o caminho mais seguro para se chegar ao mistério do Natal.
            Celebremos Jesus que nasce em nossos templos com cantos, orações e muita festa, mas não deixemos de senti-lo e compartilhá-lo junto aos desvalidos da sociedade. É sem dúvida lá que ele renasce com mais intensidade, pois onde está um necessitado, lá ele está entre nós. Caso não o buscarmos e o encontrarmos lá, entre os “pastores” de hoje, os excluídos e espoliados da sociedade, provavelmente também não o encontraremos em nossos templos.
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domingo, 11 de novembro de 2012

Hunsrickischegeschitje

DAS GESPENZT UFF DEM FRIEDHOF

Drowe in Brunkepikot is das mo passiat, dat wo so’n grosse Friedhof, und die Leit hon imme gesaat dat wea so geferlich owends do dorich se laafe: do were Gespenzte wo die Nachtleifa verschrecke un noch springe mache teere. De Gustavpitt, woo oach in de Nee gewont hat, de hot jo doch imme gesaat dat wea blos Licherei, un er het doch kei bisje Bang von de Todde. Saat imme er het Kurasch fa in der Mittenacht beim Friedhof vobei se geen, un ted noch sei Liedje singe, As mocinje da cidóde… Awe de Reinoldhannes, dat woa son schlimme Mann, wen de Jimand was oanstelle wolt, dan horra es aach gemach das es gelunge sollt. De Reinoldhannes soat iwa de Gustavpitt “Pass dich mo uff: beim Friedhoff deff ma net Nachts rum laafe, do sin schreckliche Gespenzta. Ich wollt mo sien wie das du fertich werre teest wen son Biist dich voa die Naas kemt!”, horra gesaat. Das hat dem Gustavpitt alles kei Bang gep. Hot blos gelacht un poque case demit gemach. Do hot de Reinoldhannes sich mo was geplent.
Er wust jo wan de Gustavpitt owends uff de Stross rum gelaaf is un bei dem Friedhof vobei gan is. Een schene Nacht hat de Reinoldhannes fa sei Fraa gesaat das er noore speete hem kemt. Hot mo sei alt Schwiegermodde ihre alt weis Kleit gesucht un is demit zum Friedhof. Hot sich scheen versteckelt hinna de Krewa. Er selbst hat bisje Bang, un jede Tritt uf dem weiche Land hat ihm in de Bei gezittat. Dat woa alles so ruich, er hat blos die Krickelmeisja geheat. Barabaritode, horra so helich fa sich gedenkt, hat sich awe net gewinne geloss. Sei Plon must zu Ende gehn. Mit eens hat er awe net gerechent: de Gustvpitt wo groat uff dem Toach mit sei Gaul in die Poteke gerit un kemt montode.
Wie das so weit woa do hot uff eemol de Reinoldhannes dem Gaul sei trample geheat; um aach gleich die Stimm, wo er so gut gekent hot. De Gustavpitt wo hat am singe, “Eins gin ich am Uffer des Rheins, da fand ich mein Liebche allein…”, das hat geschalt in der Nachtluft. Gans genau wie die Stimm so voam Friedhof wo do is de Gespenztmann raus gehupst un mit dem weisse Rock in de Luft geschwenkt. Hot aach noch debei gekrumt wie en Stie wen er bees un hunrich is. De gute Reita, wie er iwerrascht wo is, hat sofot uffgeheat se singe: een klene Schreck, awe net so schlimm. Hot mo de Gaul am Zohm veschtgehal un mo bisje gedenkt. Un uff eemol! Uff eemol nemt er jo doch de Rabodetatu, wo noch gans nei woa, un reit zum Gespenzt hin. Hot geschreit: “Jetz will ich awe doch mo siin ob en Gespenzt net se haue is”. Dat hot blos noch me so geflatscht. De orme Reinoldhannes is geschtolpet un das weisse Kleit issem runne gefal. Die Beitsch hat geknalt uff seim Buckel. Wie er mea oanhald das de Gustavpitt nolosse sollt, desto mea hat de sei Spass um druf se haue. “More, deskrassade”, horre geschreit, “ich will doch mo sien wea das do drunne steckt”.
De Reinoldhannes must springe bis heem, un solang wie er net de Tea nin gesprung is hot sei Buckel kei Ruu griet. Das Gespenzt woa mo vorot, un die Leit hon sich lechlich gemach. Dem Gustavpitt sei Kurasch is in alle Ecke verbreit geb. Un die Lei thon gesaat man solt de Friedhof net desrespecktiere, awe do were doch kei Gespenzte. Die orme Seele wolte blos Gebete, un tere de Leit nicks Beses mache.
Mário Glaab
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segunda-feira, 5 de novembro de 2012

MATRIMÔNIO CRISTÃO

“A IGREJA ESTÁ SENDO INJUSTA COMIGO!”

Pe. Mário Fernando Glaab

Introdução

Como sempre, mas em nossos dias cada vez mais, os casais cristãos se deparam com dificuldades nas relações matrimoniais. Os compromissos relacionados com a indissolubilidade do Matrimônio cristão são de fato um peso para a grande maioria. As leis que decorrem da questão indissolubilidade são pouco, conhecidas ou não levadas a sério. Trazem problemas enormes para os casais e para pastoral. Como explicar às pessoas que se frustraram no seu casamento e que, numa segunda tentativa vivem muito melhor do que na primeira, de estarem irregulares diante das leis da Igreja? E, que em consequência disso, não estão em condições legais para receber outros sacramentos, especialmente a Eucaristia? Dizê-lo até que é fácil, mas convencê-los, isso é quase impossível. Eles, geralmente revoltados contra a própria comunidade que os critica, não querem ouvir. Já estão convencidos de que não são piores do que ninguém; ou melhor, ninguém é melhor do que eles. As explicações não penetram em suas cabeças, pois o coração fala mais alto. E, quando simplesmente se apela para as leis da Igreja, retrucam afirmando que se sentem injustiçados por parte dela. "A Igreja está sendo injusta comigo. Será que eu não posso mais viver feliz?" – dizem – "por que os outros que fazem coisas piores do que eu e podem comungar tranquilamente, enquanto eu estou excluído?".



O Sacramento do Matrimônio


O Catecismo da Igreja Católica afirma claramente, como, aliás, a Igreja sempre ensinou, que "o amor dos esposos exige, por sua própria natureza, a unidade e a indissolubilidade de sua comunidade de pessoas que engloba toda a sua vida: ‘De modo que já não são dois, mas uma só carne’ (Mt 19,6)". E continua, "(a comunhão humana) é aprofundada pela vida da fé comum e pela Eucaristia recebida em comum" (1644).
A questão toda está sobre a consciência de que o verdadeiro amor assumido no Matrimônio é indissolúvel. A Igreja, baseada nos ensinamentos do Novo Testamento, sempre apresenta o Matrimônio como sinal (sacramento) do amor entre Cristo e sua Igreja (cf. Ef 5,31-32). E, pela própria maneira de se entender, também antropologicamente o amor responsável, necessariamente se chega à indissolubilidade. O grande teólogo alemão W. Kasper, escrevendo sobre o tema, lembra G. Marcel, que refletindo sobre a natureza do amor humano, conclui que "amar uma pessoa equivale a dizer: você não morrerá". Assim, já que você não vai morrer, o meu amor por você não vai acabar. Ainda mais, falando do vínculo da fidelidade matrimonial, o teólogo afirma que o amor matrimonial dos esposos cristãos "pela sua própria essência, não é um jugo imposto aos cônjuges, privando-os da liberdade, mas a suprema realização da liberdade, um não-poder-ser-já-de-outra-maneira existencial". Isso nos leva a concluir que a própria constituição humana exige um amor indissolúvel. O homem e a mulher são verdadeiramente homem e mulher, quando e somente quando nesta perspectiva, optarem livremente por um amor irreversível.
Tendo presente este ponto de partida, pode-se dizer que a Igreja, na sua doutrina sobre o Matrimônio e, mais ainda, na sua disciplina decorrente da doutrina, leva em conta a seriedade da questão. O Vaticano II, na Constituição Pastoral da Igreja Gaudium et Spes nos deixou a frase pragmática: "Nada de verdadeiramente humano é alheio à Igreja" (n. 1). Por isso é possível ver quando ela confia a seus filhos o tesouro da bênção matrimonial, uma entrega responsável de um compromisso: o testemunho sensível e eficaz do amor fiel e indissolúvel. Como ninguém é obrigado a se casar, a Igreja oferece este compromisso àqueles que livremente se apresentam para o casamento.
Desta forma, os esposos cristãos recebem da Igreja a missão de mostrar ao mundo que o amor de Deus para a humanidade, manifestado em Jesus Cristo, é para sempre. Ela lhes confia esta tarefa. Uma vez que eles a assumem, é dever de justiça como resposta a ela, desempenhar da melhor maneira possível a missão de ser sinal. E quanto mais sinal forem, tanto mais serão eficazes, isto é, tanto mais transmitem o amor de Deus, porque o amor é transmissível. Ele passa para os circunstantes e vai transformando o ambiente ao seu redor. O amor e a fidelidade de Deus se tornam presentes na história graças ao amor e à fidelidade existentes entre os cristãos. Desse modo, a Igreja é o sacramento global de Cristo, como Cristo é o sacramento de Deus. Isso que se afirma da Igreja em sua totalidade, encontra sua condensação e elaboração mais intensivas nos sacramentos concretos. É na vivência concreta dos sacramentos que a Igreja se apresenta e se realiza no mundo. Os casais cristãos se realizam como tais quando vivem o amor indissolúvel assumido no dia de seu casamento.
Olhando sob este ponto de vista, deve-se admitir que a Igreja deposita muita confiança nos casais por ela abençoados por assumirem o Matrimônio cristão. Pode-se dizer que ela os coloca no mundo em seu nome para que, na vida do dia a dia, anunciem a todos que Deus é amor, através de sua maneira de viver o amor responsável e duradouro. A Igreja por eles se faz presente em todas as camadas da sociedade. Cada casal cristão enriquece grandemente a Igreja. Os casais que têm esta consciência sentem-se pequenos diante da missão. Não se cansam de pedir as graças para bem desempenhá-la. Em todos os momentos agradecem os muitos auxílios que a comunidade lhes dá, seja pela certeza de não estarem sozinhos, seja pela formação e pelas orações.


As dificuldades


O Matrimônio deveria ser uma experiência fantástica. Duas pessoas que se amam deveriam jubilar em ouvir dizer que o seu amor não diminuirá: “Forte como a morte é o amor” (Ct 8,6). Ao invés, às vezes elas recebem esta experiência como uma condenação. E, facilmente, com o passar dos anos, por motivos, os mais diversos possíveis, a linda experiência de viver o amor abençoado por Deus e confiado a eles pela Igreja, termina. Sem querer fazer uma apreciação sobre as muitas causas do desaparecimento desse amor, apenas se quer constatar o fato. Em nossos dias, talvez muito mais rápida do que outrora, vem, nestes casos, a separação. As pessoas não suportam viver continuamente com os sofrimentos que isso acarreta. Tudo os leva a dizer não um ao outro e, procurarem outro caminho.
E agora, como fica a questão com relação à Igreja? Deixemos a culpa moral para os moralistas. A lei, por outro lado, é dura. Também os canonistas devem enfrentar o problema com os olhos voltados para uma pastoral mais enraizada nas experiências do dia a dia. O que logo se constata da parte dos cônjuges, agora frustrados, é uma terrível revolta contra o parceiro, contra Deus e contra a comunidade. Muitos, no início, se isolam. Pouco mais adiante, geralmente já com outro companheiro ou outra companheira, voltam ao convívio da comunidade, como se nada tivesse acontecido. Todavia, quando são interpelados por alguém sobre sua real situação legal diante da Igreja, suas atitudes práticas com relação aos sacramentos (Penitência e Eucaristia), aí então o discurso muda. A culpa quase nunca é assumida. Esquece-se a doutrina e igualmente a beleza do Matrimônio. Vê-se apenas a situação complicada em que a pessoa concreta se encontra. A questão do sinal sensível e eficaz desapareceu nas muitas discussões e brigas. E, como afirma um grande conhecedor dos problemas familiares, professor Muraro, "os cristãos que não vivem o amor de modo fiel dão origem, de fato, a uma situação estranha e contraditória, pois por um lado continuam a se declarar fiéis a Cristo, de outro lado rejeitam ou ao menos não vivem o seu ensinamento sobre o amor, e até chegam a institucionalizar esta rejeição com um novo matrimônio. Assim desmentem abertamente com a vida aquilo que afirmam com os lábios, colocando-se no interior da comunidade como negação do amor fiel, e dando origem a um contra-testemunho nos confrontos do mundo para o qual Cristo veio a fim de salvá-lo com o seu amor fiel, paciente e misericordioso".
O mais triste é a ideia de que a Igreja, com as suas leis está sendo injusta com eles. Quantas vezes pessoas em estado irregular criticam, não tanto a Igreja como um todo, mas os hierarcas responsáveis pela comunidade onde elas vivem! Dizem: "Estão sendo injustos comigo!" E continuam – "eu também tenho direito de ser feliz". É verdade. Cada um tem direito de ser feliz. Mas será também verdade que a hierarquia está sendo injusta com eles? Pode até ser, em certo ponto, mas...
Agora volta a questão da grande confiança que a Igreja colocara no casal quando ele se apresentou para o casamento. Quem não está cumprindo o compromisso assumido de testemunhar o amor de Deus em favor da humanidade, sendo um sinal sensível e eficaz? Será que a Igreja não tem muito mais razão em se sentir injustiçada? Mais uma traição de filhos seus nos quais ela depositava tanta confiança.



Conclusão


Com intenção de aprofundar a questão que cada vez mais atormenta as consciências, não tanto dos diretamente envolvidos (que geralmente não possuem consciências formadas), mas dos pastores das comunidades, queremos nos colocar ao lado de todos os que se sentem angustiados. Impedir que afirmações equivocadas apareçam como verdadeiras. Que situações confusas criadas por pessoas que erraram despertem sentimentos de compaixão falsos. E por isso, defender os princípios certos, assim como incentivar a preparação cada vez mais aprimorada para a vida matrimonial. O acompanhamento dos casais, principalmente jovens, por parte de agentes de pastoral experientes, é de suma importância. Muito deve ser feito para que os sacramentos sejam compreendidos não como ritos mágicos, mas o que de fato são. E como são entendidos pela Igreja: Sinais sensíveis e eficazes da graça de Cristo. E, para terminar, quero citar as palavras do grande moralista, Pe. B. Häring: "É decisiva para a pastoral e para a prática matrimonial da Igreja a justa perspectiva sacramental que se tem da ordenação salvífica. Uma compreensão errada ou unilateral, em sentido ritualístico, dos sacramentos, atrofia muitas energias e muitas vezes torna impossíveis as soluções por si racionais".
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quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Efeitos do mal

O MAL É DESTRUIDOR
É muito difícil aceitar que alguém queira ser mau porque optou pelo mal, queira prejudicar o outro, queira destruí-lo. Mas, mesmo assim, também nos ambientes familiares e cristãos, existem coisas que nem deveriam ser mencionadas. Infelizmente ciúmes, invejas, fofocas, ganâncias e até agressões envenenam muitas comunidades. Quem foi vítima desses males é quem o pode dizer. São como ervas daninhas que aparecem, crescem e tomam conta se não forem arrancados em tempo. As pessoas, nas quais se instalam, nem percebem como são envolvidas e contaminadas. São vícios, que aos poucos (às vezes rapidamente), dominam suas vítimas. Mesmo não querendo ser mau, cedendo uma, duas, três vezes... quando vê, se é que chega a ver, o sujeito que poderia fazer o bem para sua comunidade, acaba fazendo muito mal, torna-se um destruidor da paz.
            Não costumo colocar textos de outras pessoas em meu blog, contudo, faço uma exceção. Encontrei uma reflexão sobre Maledicências do Pe. Zezinho, que me fez olhar para experiências que passei e me fizeram sofrer bastante, quando a inveja me atingiu e fui terrivelmente caluniado e arrancado de meu trabalho. Achei por bem compartilhar esta página com quem estiver interessado. O Pe. Zezinho sabe traduzir os sentimentos mais profundos do ser humano em pequenos textos muito bem construídos. Ei-lo:
Maledicências
Pe. Zezinho, scj


É fácil falar contra nossos desafetos.
Se sua fama ou posição nos incomoda,
diminuí-los ajuda a derrubá-los e o espaço passa a ser nosso...

É fácil omitir-nos quando deveríamos falar.
Passamos por legais e o erro continua, graças à nossa covardia.
É fácil falar quando deveríamos ter calado.
É fácil lançar suspeitas, fácil falar sem provas.
É fácil tornar-se cúmplice de uma calunia
e acreditar sem exigir provas.

É fácil esquecer o quanto devemos à pessoa
de quem acabamos ou acabaram de falar mal.
Basta que um pouco a mais de mesquinhez.

Por causa de fofocas e maledicências
muitos grupos se desfizeram,
amigos se calaram e sumiram,
benfeitores se cansaram de ajudar,
vizinhos não mais se visitaram,
relacionamentos se desfizeram
até mortes aconteceram.

Por maledicências
famílias se desintegraram,
igrejas se estranharam,
e quem ajudava perdeu a motivação.
Retirou-se na sua dor.

Estava certo São Tiago quando falou sobre a língua:
é um pequeno órgão que se gloria de grandes coisas,
pequeno fósforo que põe fogo numa floresta. (Tiago 3,5)
Se alguém pretende ser religioso refreie sua língua.
É pavio aceso pelo inferno! (Tiago 3,6)
Aquele que controla a língua tem as rédeas da sua alma.

www.padrezezinhoscj.com
Mário F. Glaab
www.marioglaab.blogspot.com.br

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Estudo: Recuperar o "Espírito" do Vaticano II

(Trata-se de um estudo apresentado ao clero da diocese de União da Vitória – PR com o fim de despertar em cada um o interesse pelo tema e, a partir do interesse, levar à reflexão e ao compromisso, no sentido de atualizar, também hoje, o “Espírito” que levou João XXIII a convocar o Concílio, renovando, assim, a Igreja para que possa dar ao mundo de hoje respostas com sentido; ser sacramento e apoio para todo ser humano que almeja um novo mundo: um mundo novo é possível! Não se trata de um texto bem elaborado, mas apenas é um condutor. Serviu para orientar a exposição. É como esqueleto que necessita de carne, músculos e pele. Quem quiser aproveitá-lo para uso particular, tem todo o direito de lhe dar forma e cor, conforme seu saber e sua experiência).

VATICANO II – 50 ANOS DEPOIS
Leitura bíblica: At 2,1-12
(reflexão: pré-texto, contexto e pós-texto)
         - Discípulos com medo: o medo de testemunhar a verdade.
         - Estavam reunidos, veio o Espírito... Começaram falar em outras línguas; alguns caçoavam.
         - Pregação dos Apóstolos: Nós somos testemunhas!
Aplicação: Nós, padres, quais nossas preocupações? Qual é a verdade?
            - Onde e quando nos reunimos... aprendemos outras línguas???
            - Como testemunhamos e para quem?


1)      MOMENTO HISTÓRICO DO VAT II
METADE DO SÉCULO XX
            - Nesse período ocorrem normes mudanças: Modernidade; ciências, tecnologias (Wirtschaftswunder), filosofias, cultura, etc.
            - O período é comparado ao de Constantino ou de Lutero.

IGREJA CATÓLICA
FECHADA – MENTALIDADE DO VAT I
            - Os bispos não viam o porquê do concílio – Pio XII resolvia tudo. O papa era o responsável. Igreja era fortemente hierarquizada.
            - Havia uma minoria consciente dos problemas do povo católico. Não na cúria romana! Esses pensavam que a finalidade de um concílio só podia ser o de condenar (o quê?).
- Havia movimento teológico fermentando (bíblico, litúrgico, dogmático, etc). Era bem mais desenvolvido entre os luteranos, pois do lado católico, os teólogos eram caçados (Chardin).
SURPRESA!
JOÃO XXIII – NOVO PENTECOSTES
            - Abrir janelas. Igreja deve dar respostas para as questões atuais. Não condenar! mas ouvir.
            - O mundo estava “grávido do Espírito Santo”. Alguém precisava ajudá-lo a nascer. O Papa foi “a parteira” (maiêutica), mas exigiu a colaboração do mundo todo: aí se esconde a ideia do “ecumênico”.

RECUPERAR O ESPÍRITO DO CONCÍLIO
LEITMOTIV
(Motivo condutor)
            - Libertar-se do “literalismo”. Não basta ler e conhecer os textos do Vat II, é preciso lê-los em seu espírito próprio em nosso contexto hoje. É o mesmo que ocorre com a leitura “popular da bíblia” (lembrar Mesters – ex. da carne de porco! Pré-texto, contexto e pós-texto). Todo o contexto da caminhada e da realidade (sinais dos tempos) na AL.
            - O importante para comemorar hoje são os 50 anos. A história converge para o hoje.
            - É preciso voltar ao Concílio, mas não basta: fazer memória dele é muito mais do que lembrar.
            - A releitura do Concílio exige conversão e, conversão contínua!


2)EFEITO IMEDIATO DO “AR FRESCO” DO ESPÍRITO
IGREJA ANTES E DEPOIS DO VAT II
a)      Igreja Hierárquica X Povo de Deus (pobres)
            Passa-se: - de uma Igreja tipicamente de cristianismo, centrada no poder e na hierarquia, pirâmide hierárquica, para uma Igreja do Povo de Deus, de pessoas batizadas (LG II), a qual caminha junto com toda a humanidade na história e está aberta aos desafios dos novos sinais dos tempos (GS);
            - A questão dos pobres estava presente de forma embrionária – tinha sido desejo expresso de João XXII.
b) Eclesiocentrismo X Reino de Deus
            - de uma Igreja centrada em si própria (eclesiocentrismo) para uma Igreja orientada para o Reino de Deus, do qual ela é o sacramento e a semente (LG);
            - (Sínodo de 85: Igreja-comunhão! Não é tanto questão de conceitos, mas o que está por trás dos conceitos. Houve um enorme retrocesso... Ratzinger entendia “povo” em chave sociológica. “Comunhão” leva ao hieraquismo. Lembrar D. Paulo Arns em diálogo com Ratzinger que o acusava de que as CEBs eram muito marxistas...
c) Sociedade perfeita X Mistério da salvação
            - de uma Igreja sociedade perfeita “tão histórica e visível como a República de Veneza ou o reino dos Francos (Belarmino) para uma Igreja mistério da salvação, enraizada na Trindade (LG), uma multidão congregada pelo Pai, o Filho e o ES (LG 4); É nesta nova visão que se pode vislumbrar os pobres.
            - CIC não deu conta do espírito do Vat II. Muito menos João Paulo II e Bento XVI (Bento XVI não dá conta do teólogo Ratzinger!). O papas tornaram-se presos da cúria romana.
d) Cristomonista X Carismática
            - de uma Igreja vista como a prolongação da encarnação de Jesus, e com risco de cair no cristomonismo (acusação oriental), para uma Igreja que brota tanto de Cristo como do Espírito Santo que unge os fiéis com o dom da fé e reparte uma pluralidade de carismas (LG 12);
e) Igreja centralizada (uniforme) X Igreja de Igrejas (corresponsáveis)
            - de uma Igreja centralizada e uniforme para uma Igreja de Igrejas, comunhão de pluralidade de Igrejas locais corresponsáveis, nas quais e pelas quais existe a Igreja Universal (LG 23);
            - Problemas que ainda persistem: o modo de escolher os novos bispos, as condenações de teólogos (Sobrino, Height, Queiruga...), interferências nas dioceses...
f) Igreja triunfante X Igreja peregrina
            - de uma Igreja triunfante, dominadora, gloriosa, que parece ter chegado à plenitude escatológica, para uma Igreja pobre e que abraça os pecadores em seu seio; para uma Igreja peregrina em direção ao Reino, que se suja com o pó do caminho (LG VII);
            - Alguns obstáculos surgiram nessa experiência de peregrinar: voltas ao sistema antigo: lembrar a história da Humanae Vitae e da Familiaris Consortio, as perseguições à TdL, entre outros. (Cuidado: não estou criticando a “doutrina dos documentos”, mas o “espírito” que está por trás – a igreja que não consegue fazer seu o sofrimento dos casais ou dos pobres!: ela volta a ensinar do alto).

g) Igreja: única que salva X Igreja que crê na vontade salvífica de Deus para todos
            - de uma Igreja que afirmava que fora dela não havia salvação para uma Igreja que acredita que o Espírito oferece a todos a possibilidade de salvação em Cristo, por caminhos somente conhecidos por Deus (GS 22), pois a Divina Providência não nega sua graça às pessoas de coração reto que não por sua própria culpa não chegaram a conhecer Deus Verdadeiro (LG 16);
            - Igreja que não condena, mas que colabora com tudo e com todos os que querem a vida e o bem do mundo.

h) Igreja de excomunhão X Igreja de perdão e misericórdia
            - de uma Igreja acostumada ao anátema e à excomunhão para uma Igreja que prefere usar o diálogo, o perdão e a misericórdia;
            - Hoje, busca-se remover excomunhões (com conservadores), mas infelizmente as condenações reapareceram.
            - “Deixar falar a dor é condição de toda verdade” (Adorno), citado por Fabri dos Anjos.
i) Igreja: única certa X Igreja da liberdade religiosa
            - de uma Igreja que não respeita a liberdade religiosa, porque acredita que o erro não tem direito, para uma Igreja que reconhece e respeita a liberdade de cada um de buscar e professar sua fé segundo sua consciência (DH);
            - lembrar Queiruga: “Todas as religiões são reveladas”. A maiêutica divina da revelação – “dar-se conta”. O que um descobriu é imediatamente de todos.

Espírito do Vat II (resumo):
a)      volta à fontes da fé (Tradição)
(Aufheben)
b) abertura para nosso tempo (sinais)
c) desenvolvimento da doutrina (Igreja inserida)
            - Para resumir: o Vat II opera um movimento triplo: Volta às fontes da fé e da autêntica Tradição (Aufheben),  (teólogos precursores do concílio), abertura para nosso tempo (aggiornamento, palavra “roncalliana”) e desenvolvimento da doutrina. Somente na inserção é que a doutrina se desenvolve e não fica “conservada”. Anos de primavera, mas K. Rahner antes de morrer (1984) diz que estamos vivendo um “inverno eclesial”.


3)      PÓS-CONCÍLIO

Duas reações eclesiológicas: de comunhão e mais jurídica
            - A eclesiologia de comunhão se experimentou, mas bem longe de Roma! Para nós, na AL, a comunhão foi e está sendo experimentada na opção preferencial pelos pobres. Bispos líderes que não tiveram medo de fazer experiência de comunhão com os que estão mais perto de Jesus, o Verbo Encarnado. Olharam os “sinais dos tempos e os interpretaram à luz do Vat II” no seu “Espírito”. Com Medellin (68) souberam atualizar o Vat II para a realidade da Igreja nesse Continente Latino Americano.
            - Paulo VI, para deixar o concílio avançar, teve que tolerar interferências de setores conservadores. Todavia, esses, mais tarde culpavam o Vat II de todos os males da Igreja pós-conciliar: abandono de sacerdotes e religiosos, diminuição da prática sacramental, diminuição das vocações, etc. Depende do ponto de vista do qual se olha: pode ser “verdade”, mas também pode ser uma grande mentira.

INVOLUÇÃO CONCILIAR
            - O espírito do Vat II, tão almejado por João XXII, sofreu duras críticas por alas conservadoras que não queriam deixar seus tronos de poder. Houve uma guerra hermenêutica entre identidade e novidade: identidade significava a grande Tradição e a “novidade” não podia ser o Espírito Santo atuando no mundo! O problema é que muitos identificaram a grande Tradição eclesial com a tradição do século IV, de Trento ou do século XIX. João XXIII foi um homem profundamente tradicional, mas de uma tradição que voltava às fontes e, por isso mesmo, podia avançar e dar um salto para frente.
            - Formas de involução: retorno à liturgia em latim, nomeações de bispos seguros e conservadores, centralização romana e enfraquecimento das conferências episcopais, confrontos com os setores críticos da Igreja, freio aos leigos...
            - a ala que era minoria no Vat II voltou a erguer suas bandeiras da tradição antimodernista, antiliberal, antiprotestante e anticomunista.

EVOLUÇÃO E ATUALIZAÇÃO
            - Alguns pontos foram falhos no Vat II (não vingaram): por exemplo, a “Reforma da Cúria Romana” e “a Igreja dos pobres”.
            - Isso, no entanto, teve grande desenvolvimento em nosso Continente. Bispos, padres, religiosos e líderes leigos deixaram “seus palácios” e compartilharam a vida com o povo pobre, sofrido, oprimido e injustiçado. As pequenas comunidades trouxeram a Igreja para junto do povo – Povo de Deus.
            - a recepção do Vat II na AL tem importância teológica única. Não é simples obediência, mas é conforme o espírito para esta realidade histórica concreta. Provocou muitos conflitos – tornou-se martirial, não só por ser profética com relação aos dominadores e opressores, mas também por inovar conceitos estagnados por séculos Igreja.
            - a convocação do Concílio foi “revelação”, assim como a TdL na AL (Queiruga). A “revelação” de Deus na Igreja e para a Igreja continua também hoje.
            - a Igreja tomou consciência de que não deve “fazer para os pobres”, mas “com os pobres”, ou melhor, ser pobre, para então, com Aquele que é o Pobre, lutar por mais vida e libertação.
            - Em Medellin (68) e em Puebla (79) a Igreja da AL realizou uma recepção criativa e inspiradora do Vat II; relendo e concílio a partir da situação de pobreza e de injustiça do Continente. Aplicou a doutrina conciliar dos sinais dos tempos, e escutou no clamor do povo pobre um verdadeiro sinal dos tempos, a presença do Espírito que pedia justiça e direito e, soube se deixar iluminar pela Palavra de Deus. Nesse clima, faz a opção pelos pobres, as CEBs, a leitura popular da Bíblia, os bispos defensores dos pobres, verdadeiros Santos Padres da Igreja dos pobres (Romero, Angelleli, Gerardi, Proaño, Hélder Câmara, Mendes de Almeida...), agentes de pastoral comprometidos com o povo, com a vida religiosa inserida nos meios populares e o martírio. A TdL que nasce nesse contexto acompanhou todo esse processo, iluminando-o com os valores evangélicos e a verdadeira Tradição eclesial.
            - Nem o concílio nem a Igreja na AL imaginavam onde o “Espírito” os poderia levar. Um grande exemplo é a irrupção dos pobres que se tornou imagem de uma “Igreja Samaritana” (lembrar que o samaritano é o criticado pelos fariseus por não observar a Lei!).
            - Nenhum teólogo, se quiser ser sério, pode ignorar a relação Deus x fome; e por isso, a TdL colocou o “aggiornamento” do Vat II em maior relevo.
            - A TdL, diante da realidade latino-americana, teve a consciência de que necessitava libertar: - a teologia daquela hermenêutica europeia; - optar pelos pobres reais (em pessoa, não em abstrato), e, - seguir a Jesus Cristo histórico (lembrar o exemplo do marinheiro...).
            - Segundo momento (90): mesmo que a pobreza e injustiça não tenham acabado, surgem novos cenários, novos atores e novos sujeitos emergentes: jovens, mulheres, indígenas e afro-americanos, as culturas, as religiões, a terra e seu clamor ecológico. Santo domingo (92) e Aparecida (07), não esquecem os pobres, mas abrem-se a essa nova problemática: diálogo intercultural e inter-religioso, nova evangelização, estado de missão, missão permanente, etc. Também a TdL se abre às novas temáticas: teologia índia e afro-americana, ecológica, feminina, intercultural e inter-religiosa, etc.

4)      DESAFIOS HOJE
Mundo globalizado
            - O desejo de viver no seu cantinho é impossível: “eu na minha paróquia, ou na minha diocese...” ou, “eu faço o que posso, não tenho nada com os colegas e com a Igreja que está lá em Roma”, ou ainda, “a política não me interessa”. Como ser Igreja dos pobres nesse mundo globalizado? Como ser padre hoje nesse mundo fragmentado?

NOVAS TECNOLOGIAS, MERCADO NEOLIBERAL, CRISE DO MEIO AMBIENTE, FLUXOS MIGRATÓRIOS, MUNDO “URBANIZADO”, FALTA DE FÉ, INDIVIDUALISMO
            - Estamos num mundo onde o produzir é para o lucro. Quem produz tem lucro, quem não produz não tem lucro. O lucro é um dos vários deuses atuais. Ele também exige suas vítimas, seus holocaustos. E, ai daquele que o quer enfrentar! São vários os perseguidos dentro e fora da Igreja por optarem pelos pobres.
            - No entanto, no ritmo produtivo, logo vai faltar (matéria prima, consumidores...), e crescerá assim o número dos pobres. A mentalidade é de que o pobre é infeliz porque não tem! Optar por eles implica então mudança de mentalidade, caso contrário, no máximo se fica no paternalismo ou assistencialismo. Isso não muda a realidade.
            - Estamos ante uma mudança cultural e religiosa sem precedentes, um verdadeiro tsunami invade o planeta. A informática é feijão e arroz para as gerações novas e, padres ou líderes andam totalmente desatualizados. A problemática do Vat II foi insuficiente e, de algum modo, já está superada.
            - Hoje o problema já não é tanto a Igreja, mas Deus (falsa concepção de Deus – Queiruga), a secularização, o diálogo inter-religioso e, além disso, a exclusão de grandes setores da riqueza da terra e da sociedade do conhecimento, a discriminação da mulher na sociedade e na igreja patriarcal de hoje (?!), a indignação dos jovens perante a sociedade violenta e desumana que receberam das gerações passadas, a ameaça ecológica e a crise econômica, etc. Que resposta a Igreja dará hoje que seja a resposta evangélica e que tenha algum conteúdo?
            - Não existe mais o “mundo rural”, como alguns ainda insistem em afirmar, mas também ele foi “urbanizado”. O que acontece nos grandes centros é imediatamente assunto nos mais remotos cantos do interior.
DESAFIOS DENTRO DA IGREJA
            - Quando a Igreja quer dizer uma palavra de sentido para esse mundo complexo, várias questões “incomodam”. Questões não resolvidas pelo Concílio com relação à Igreja Institucional: eleição de bispos, estado do Vaticano e estrutura do primado petrino, núncios, celibato sacerdotal... Outros, por falta de mediações institucionais, surgem novamente com força: diálogo com o mundo da biologia e da sexualidade, feminismo, ecologia, pluralismo religioso, movimentos pentecostais, transmissão da fé às novas gerações – como?, etc.
            - Como falar de nova evangelização sem questionar o modelo atual da estrutura eclesiástica no que tem de retrógrado e deforme?
            - Ainda, é impossível esquecer a crescente falta de credibilidade eclesial, os escândalos sexuais (lembrar as saídas dos alemães da Igreja e a reação dos bispos), as misteriosas intrigas da cúria vaticana, a diminuição de vocações sacerdotais e religiosas e a qualidade das que ainda insistem em continuar, a baixa frequência sacramental em muitos setores, o abandono silencioso da Igreja por parte de milhões de fiéis, aumento da indiferença e o agnosticismo religioso que acrescido ao anterior, produz uma sensação de grande perplexidade e de crise eclesiástica. (H. Küng no seu livro A Igreja tem salvação? Dá o que pensar)

5) PISTAS, LUZES E ESPERANÇAS
            - Entre tantos desafios e incertezas, seria injusto não apresentar algumas pistas, luzes e esperanças que vêm da atualização, do “fazer memória” do Vat II.
            - Só se pode falar, sonhar com o futuro, quando se olha para o passado com olhos críticos, positiva e negativamente. (Libânio).

a) Retorno à Bíblia
            - A partir da DV se percebeu que Deus fala hoje: deu-se valor ao leigo na Leitura Popular. Não é de cima que vem o ensinamento, mas o Espírito está aí: “foi derramado...”.
            - A Palavra de Deus foi levada ao povo. Ela não é mais propriedade do clero. Nestes 50 anos a Bíblia tornou-se um livro de uso pessoal dos fiéis. Eles têm a possibilidade de ler a fonte primeira da revelação de Deus.
            - Necessita-se, no entanto, continuar com os grupos para a leitura popular da Palavra de Deus. A Palavra deve ser lida no seu pré-texto, no seu contexto e no seu pós-texto. Assim ela, a partir da vida do povo, ilumina (mostra onde Deus está presente e onde ele não está presente) e, ensina como viver conforme a vontade desse Deus que está aí, no meio do povo – na sua história, por mais dura que seja, dando-lhe a certeza de que um outro mundo é possível.
            - A próxima etapa da TdL será feita por leigos, dando respostas mais localizadas para suas comunidades, em suas lutas e desafios. A Bíblia foi conquistada pelos leigos. Não adianta agora querer que um catecismo venha substituir a Bíblia. Entre uma reflexão teológica doutrinária a partir do catecismo e uma reflexão teológica vivencial a partir da Palavra, as comunidades ficarão coma segunda (Orofino).
            - Com a bíblia na mão do povo descobriram-se imensos valores da religiosidade popular e da cultura popular.
            - Dar voz a quem não fala é difícil, mas com a leitura popular da Palavra de Deus se tenta fazer isso. É preciso cuidar para que a catequese não seja um encher de coisas e mais coisas sem levar a experimentar a Palavra.
b) Igreja – Povo de Deus
            - A Igreja como sacramento de salvação, isto é, sinal eficaz que conduz ao Reino de Deus. É o povo todo que, na colaboração mútua, batizados e crismados, alguns ministros ordenados, caminha nas “alegrias e nas esperanças, nas tristezas e nas angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de tantos que sofrem...”
c) Igreja dos pobres
            - “O absoluto é Deus, e o coabsoluto são os pobres” (J. Sobrino). Eles têm a última palavra, e não adianta! Porque Deus está onde eles estão. Afinal, é isso que o cristianismo ensina e vive.
            - “Fazer teologia é ajudar, a partir do pensar, para que Deus seja mais real na história e que os pobres – no caso, a fome – deixem de sê-lo” (J. Sobrino). Evangelizar é o mesmo, mas a partir do agir.
            - “Há um dito que diz: onde estão os pobres está Cristo, e onde está Cristo está a Igreja. Só que não é verdade que onde está o pobre está a Igreja (“hierárquica”). Ela está mais perto do palácio de Herodes do que da gruta de Belém. A igreja precisa ver qual é o seu lugar na sociedade” (Boff. L).
            - Os pobres não são melhores que os outros, mas é com eles que se descobre a misericórdia de Deus revelada em Jesus Cristo.
            - Para não se perder na caminhada em direção do Reino de Deus, a garantia é Jesus histórico, não o Cristo da fé, que facilmente leva à alienação. Lembrar as sereias (carismáticos) que cantam sedutoramente; e o livro de Pagola: Jesus: aproximação histórica. “As três brancuras da Igreja” são igualmente perigosas outro.

d) Igreja-serviço X Igreja poder
            - Todo poder é para o serviço. “Todo poder me foi dado, ide, pois, e fazei discípulos meus...”
            - Igreja que não serve, não serve para nada. O poder dos ministros ordenados consiste em serem os primeiros a servir ao Reino. Libertar o Espírito que sopra onde quer.
            - Os verdadeiros sinais de autoridade (poder) não estão no externo, mas na presença junto aos últimos (os pobres de todos os rostos).
            - Três passos que a TdL faz para servir como Igreja: a) assumir a realidade (ver); b) encarregar-se da realidade (julgar – a teologia é intellectus amoris, isto é, fazer crescer a salvação, a compaixão, a misericórdia e o amor); c) carregar a realidade. Sob a realidade latino-americana vivem os anawim, os pobres. Carregá-los não é nada fácil – pode acarretar perseguições. Isso pode acontecer quando o fazer teologia está perpassado de atitudes éticas. Hoje se acrescenta um quarto passo: deixar-se carregar pela realidade: o teólogo (pastor) sabe que faz parte do povo pobre, não é externo a ele. Fazer teologia (servir) é, então, “uma pesada carga leve”, que é o Evangelho (Rahner).
e) Igreja ecumênica X Igreja única e verdadeira
            - A Igreja que sabe valorizar tudo o que é humano. Não é dona da verdade, mas servidora dela (Lembrar Bento XVI falando para seus ex-alunos: “não somos os donos da verdade”).
            - “Todas as igrejas (religiões) são verdadeiras” (Queiruga). “Sem paz entre as igrejas não haverá paz entre as nações” (Küng).
f) Igreja aberta X Igreja fechada
            - A Igreja que não condena, mas que com humildade tenta entender o novo e tirar dele o que for bom; que sabe dialogar com todas as religiões, com todos os pensamentos religiosos e científicos, assim como com todas as filosofias.
            - Hoje é preciso ir em busca dos “pedaços de cultura” que aí estão. Descobrir a presença do Espírito no fragmentado. (Libânio acrescentou um capítulo ao seu livro Cenário da Igreja no qual fala do Cenário de uma igreja plural, fragmentada pós-moderna, Loyola).
            - Nesse processo é preciso pregar nos terraços; esconder pode ser a pior viajem: tudo será revelado! (Não acobertar escândalos). A informática é o grande meio de comunicação que não deixa nada escondido – deve ser usada para a verdade, sem medo.
g) Igreja da reforma litúrgica X Igreja conservadora
            - Igreja que sabe se inculturar, não usando seu prestígio para se impor. Uma liturgia frutuosa para nossos povos deve usar símbolos e palavras compreensíveis aos homens e mulheres contemporâneos. Rubricismos não dizem nada para o nosso povo.
            - Muita coisa pode e precisa ser revista em nossas celebrações, principalmente para os dias de festa.


5)      IGREJA E CRISTOLOGIA PNEUMATOLÓGICAS
(CONCLUSÃO)
            - Deve-se cuidar para que a eclesiologia não ocupe o centro da preocupação cristã, já que somente Jesus Cristo é o princípio e o fundamento de nossa fé. Mas, tanto a eclesiologia como a cristologia devem ser profundamente pneumatológicas. O Espírito vai adiante da Igreja e transborda em toda a humanidade. É o espírito da criação, dos profetas, da encarnação e da ressurreição de Jesus; o Espírito da vida presente em todas as tradições religiosas da humanidade, o que move a partir de dentro todos os movimentos sociais, culturais, políticos ecológicos e que tudo encaminha para o Reino. Precisamos de uma pneumatologia a partir dos pobres, que possa ser uma fonte de esperança para a Igreja e o mundo: outro mundo é possível, outra Igreja é possível. “Crer, esperar e amar” há de ser o lema animador.
            - Para que a Igreja seja perpassada pelo Espírito Santo ela o deve encontrar nos pobres (lembrar Mühlen: “uma Pessoa em muitas pessoas” – o mistério da Igreja). Ao encontrar o Espírito nos pobres, imediatamente ele a leva a Jesus, a Jesus histórico: “O que vimos e ouvimos vos anunciamos”, e “Esse Jesus que crucificastes, ressuscitou; nós somos testemunhas disso”.
            - Esse é o “Espírito” de João XXII e do Concílio Vaticano II, é o Espírito de Cristo e é o Espírito de Deus, que atuou, atua e atuará sempre na história do mundo.
Celebremo-lo hoje, no jubileu de ouro do Vat II.



TAREFA:

1) Quais as preocupações concretas de nossas paróquias e diocese e que respostas concretas a Igreja dá para elas?

2) O que podemos fazer para que nossas paróquias e diocese descubram mais e melhor o “Espírito” presente e atuante nos novos pobres que estão surgindo? Como caminhar com eles rumo ao Reino de amor e de justiça?


Bituruna, 25/10/12
GLAAB, M. Fernando
www.marioglaab.blogspot.com