sábado, 25 de abril de 2015

Jesus de Nazaré surpreende!

QUEM É ESTE JESUS?!
            Para nós cristãos é tão corriqueiro falar de Jesus como aquele que é o nosso Deus, e por isso tem poder. Ele pode resolver todos os nossos problemas, ele é a solução para tudo. Bem mais difícil é uma aproximação de Jesus no que ele foi e continua sendo para a humanidade, uma vez que é Deus que tem poder. Quem é este Jesus e como ele exerce o poder de Deus em nosso favor? É ele de fato aquele que nós imaginamos com nossas elaborações lógicas, ou ele nos surpreende quando começamos a conhecê-lo e experimentá-lo mais de perto?
            Não há como negar, fomos todos “forçados” a criar uma imagem de Jesus. Esta imagem geralmente é fruto de devoções que nos foram transmitidas por pessoas piedosas, mas com pouca formação religiosa e teológica; ou ainda de nossas concepções lógicas que fomos “construindo” no dia a dia de nossa existência. Nessa imagem, que a maioria dos fiéis tem de Jesus, reflete-se pouco daquilo que o Novo Testamento revela sobre ele. Os ensinamentos oficiais da Igreja também não contam muito. A catequese ficou restrita a algumas fórmulas e atividades que ficaram no passado e que não atingiram o profundo da fé em uma pessoa, a pessoa de Jesus de Nazaré.

Jesus conhece e quer ser conhecido, fala e quer ser ouvido
            Um primeiro aspecto que merece ser considerado é que Jesus, como é apresentado pelos evangelhos, é alguém que conhece seus amigos, e que espera que eles o conheçam também (cf. Jo 10,14). Este conhecimento é muito mais do que ter alguma ideia ou imagem. É comunhão de vida.
            Jesus de Nazaré é alguém que veio para estar com as pessoas lá onde elas estão. Não excluiu ninguém desse relacionamento e, justamente por isso, ele foi onde estavam os últimos da sociedade: os pobres, os marginalizados, os excluídos da religião, os pecadores, os doentes.... Ele conheceu o ser humano naquilo que lhe é próprio, seu sofrimento, sua limitação, seu anseio, sua alegria, sua fé, sua confiança. Porém, ao conhecer o ser humano em sua profundidade, convida-o igualmente a conhecer, por ele e nele, o próprio Deus. Tudo o que diz e o que faz é para que as pessoas conheçam a Deus, sua bondade, sua misericórdia, enfim, seu amor infinito. Portanto, quer se fazer conhecido para que as pessoas consigam conhecer Deus.
            Jesus é a Palavra de Deus em pessoa. Ele fala, não somente com palavras, mas em tudo o que faz. Ele vai revelando Deus. Contudo, sua palavra não é palavra lançada no vazio. Ela é palavra direcionada a pessoas concretas. É início de diálogo. Exige, ou espera, resposta. Ouvir, então, a palavra de Jesus implica em responder. O interlocutor, ao responder positivamente à palavra de Jesus, nada pode dizer, a não ser “aqui estou”. Isto quer dizer entrar no caminho do seguimento, tornar-se discípulo.
            O discipulado, na concepção neotestamentária, consiste em aprender fazendo. O discípulo ouve e observa o mestre e vai seguindo, imitando. Se Jesus estava comprometido com todos, especialmente com os excluídos, também seu seguidor – seu ouvinte – irá se comprometendo passo por passo com os excluídos. Hoje isso será possível se o ouvinte de Jesus está perto das inúmeras vítimas da sociedade consumista que devora seus consumidores; quando se compromete com eles oferecendo-lhes ânimo, coragem, fé, liberdade e vida. Comprometer-se hoje é muito mais que dar algo, é mostrar o caminho e ajudar as pessoas a seguir por esse caminho que liberta e que dá vida plena.

Surpresa!
            Uma vez cientes que a imagem que temos de Jesus pode ser muito limitada, queremos conhecê-lo e ouvi-lo mais. À medida em que se fazemos isso, podemos ter surpresas. Ele é bem diferente do que “deveria” ser.
            Uma primeira surpresa: Ao se seguir o caminho do “conhecer” e do “ouvir” Jesus, podemos nos encontrar com alguém que escapa das leis ordinárias das pessoas que julgamos normais. Analisando bem, parece que Jesus não tem memória! E, memória sempre foi vista como uma grande qualidade para as pessoas avançarem e progredirem; é imprescindível para os espertos e prudentes. Mas vejam: Jesus não é tão esperto pois ele, quando perdoa os pecados, esquece dos mesmos! Ele não deveria dizer “está bem: eu lhe perdoo, mas cuidado! Estou de olho em você!”, e se precaver para que esses que erraram não assumissem postos-chave no seu grupo? Contudo, ele convida as pessoas sem se importar com os pecados que cometeram no passado. Isso é falta de prudência, não mostra esperteza, e muito menos malícia, que é tão importante em uma sociedade que se alimenta do “quem pode mais chora mais ainda”.
            Jesus de Nazaré, ao revelar o Pai para os pecadores, mostra que Deus é diferente do que tudo o que nós podemos imaginar dele. E ele, Jesus, retrata este Pai. Por isso também ele nos surpreende; e, como?!

Libertar-se de falsas imagens
            O primeiro passo para que sejamos surpreendidos é libertar-se de falsas imagens de Deus e de Jesus. Isto vale também para a Igreja no seu todo, ou para a Igreja que está presente em nossas comunidades. É necessário renunciar a doutrinas e a conceitos que nos foram incutidos e que assumimos sem pensar. Pior ainda, assumimos porque gostamos que assim fossem. Quem quer conhecer Jesus de Nazaré e o Deus que ele anuncia deve renunciar a muitas coisas que carrega e que pesam, como por exemplo suas lógicas do que é bom e do que é mau; quem merece recompensa e quem merece castigo; quem é abençoado e quem é amaldiçoado. Precisa deixar suas certeza, seus méritos e seus medos para livremente e humildemente aproximar-se dele, pois tudo isso impede conhecer e ouvir o Divino Mestre.
            Evangelho – Boa notícia – consiste exatamente nisso: Deus que nos surpreende positivamente. O evangelho de Jesus Cristo é fonte inesgotável de vida e de compaixão para todos, é motivo de alegria e de mudança, uma vez que oferece sugestões para impulsionar a renovação de cada um e das comunidades cristãs, porém somente pode mudar de caminho aquele que deixa o caminho até então percorrido. Deixemos que ele nos surpreenda. Estejamos livres para que cada encontro seja novo.
            Caso tivermos coragem de nos surpreender com Jesus de Nazaré, talvez possamos oferecer com mais eficácia a notícia de que Deus ama a todos, também aos que vivem sem caminhos para Deus, perdidos no labirinto de uma vida desconcertada ou instalados num nível de existência em que é difícil abrir-se ao mistério último da vida. Jesus poderá ser para eles a melhor notícia, não uma ideia abstrata que já não diz mais nada para o homem e para o mundo de hoje. Atualizemo-nos.
Pe. Mário Fernando Glaab

(Pretendo apresentar outras surpresas sobre Jesus de Nazaré em outras oportunidades)

quarta-feira, 22 de abril de 2015

Dízimo e evangelização

COMUNIDADE: PARTILHAR PARA EVANGELIZAR

            A comunidade cristã tem consciência que a alma que a une e os membros entre si é sempre o Espírito do Amor. Ela sabe que foi convocada por Cristo para constituir o Povo de Deus no mundo onde se encontra, e para tal conta com a presença sempre renovadora desse Espírito que a consolida.
            A partir da consciência de ter origem e fim próprios – Deus mesmo -, a comunidade cristã experiencia e leva adiante esta convicção de fé. Em outras palavras: é evangelizada e evangeliza. Sente cada vez mais alegria em viver da presença de Deus que a sustém e, como não consegue guardar este tesouro somente para si, faz tudo para compartilhá-lo com o mundo que a circunda. Dentro dessa visão é que se coloca a partilha na comunidade cristã, seja ela oferta, dízimo ou qualquer outra forma de colaboração. Não pode existir entre comunidade e membros relação comercial. Numa comunidade cristã não tem venda e compra; não existem preços, descontos e promoções que possam ser aproveitados! Isso vai contra o espírito de gratuidade, pois na comunidade cristã, o mais pobre vale tanto quanto o mais rico, pois não são os bens que determinam a importância e a pertença.
            Uma comunidade cristã somente existe quando a vida é compartilhada entre todos. Os bens materiais são necessários, mas eles partilhados, para que todos tenham vida, e vida em abundância. Partilhar os bens materiais é sempre um meio para adquirir algo maior, nunca um fim em si.

É preciso ensinar
            Nenhuma comunidade pode subsistir se não busca sua auto-instrução. Necessita sempre levar aos seus membros possibilidades de se atualizarem no conhecimento teórico e prático. Verdadeiros mecanismos de ensino, conforme o tamanho da comunidade, seja ela uma paróquia, somente uma capela ou comunidade de bairro, devem ser constituídos. Mas para que isso aconteça, a instituição precisa de sustentação. Donde lhe vem ela? Da colaboração de seus membros, que livres e generosos doam, ou melhor, compartilham daquilo que sabem ter recebido de Deus; e que agora colocam como suporte para que a comunidade possa ser catequizadora.
            Os catequistas precisam das mínimas condições para bem desenvolver seu trabalho. Isso nas comunidades cristãs de nossos dias implica em ter salas equipadas, material – livros, cartazes, computadores etc. -, cursos de formação e de atualização, e muito mais. É a dimensão religiosa das ofertas e dos dízimos dos fiéis para que a comunidade, por meio dos catequistas possa atender às palavras de Jesus: “Ide e anunciai o Evangelho a todas as pessoas”.
É preciso servir
            A comunidade cristã, como toda a Igreja, a partir da experiência do Evangelho, sabe que é preciso servir, não somente aos seus membros, mas a toda a sociedade. Isso implica em se dispor a trabalhar para que os valores cristãos sejam sempre apresentados e respeitados entre as pessoas. A comunidade, no entanto, não pode prestar um verdadeiro serviço à sociedade se nem ela tem o necessário para seu sustento. Sendo assim, ela necessita ter, além da boa vontade de seus membros, bens que possam ser usados para socorrer os mais necessitados, os pobres da sociedade.
            A dimensão social do dízimo e das ofertas é justamente para isso. Não se justifica a comunidade dizer que seus membros também são pobres e por isso deixar ou excluir as dores e carências dos demais. O dízimo e as ofertas impulsionarão o trabalho da comunidade. Dão a ela o sabor para ser sal da terra, não apenas com palavras, mas com ações que aliviem os sofrimentos das pessoas.

Participação comunitária no trabalho missionário
            Como toda a Igreja, também as comunidades cristãs são missionárias. Ser responsável por esta dimensão não quer dizer que cada membro tenha que sair de sua família e de sua comunidade para levar o Evangelho a outros cantos da terra, mas ajudar no que for preciso para que a Boa Nova de Cristo seja compartilhada sempre mais. Alguns têm mais jeito para isso, outros para aquilo. A grande maioria não pode deixar suas atividades para ser missionária, no sentido estrito, mas pode ajudar com suas orações, seu exemplo de vida, e ainda, compartilhando seus bens. Aí entra em cheio a oferta na comunidade e o dízimo. Pois, além de cada cristão se sentir inserido no trabalho próprio da Igreja de testemunhar e anunciar Cristo e seu Evangelho, ele dá do que tem para que ações concretas se desenvolvam entre os humanos dos mais diversos lugares e situações.
            Trabalhar pelas missões individualmente pode ser bom, mas comunitariamente é muito melhor. É na comunidade que o Espírito se deixa experimentar e se difunde com mais leveza.

Formação contínua
            Como cada indivíduo precisa de formação contínua, também a comunidade o necessita. O tema sobre as ofertas e o dízimo precisa sempre de novas abordagens. Quando se acha que está tudo bem, começa-se a regredir. Partilhar exige esforço contra a tendência inata de guardar egoisticamente. Os vícios da ganância e do apego só podem ser vencidos com muita reflexão, oração e exercícios de caridade. Quem não sabe parar para refletir sobre o sentido das coisas, para agradecer o que tem, e para compartilhar, nunca saberá ofertar generosamente, nem menos dar o seu dízimo na comunidade.

Basicamente:
1.      Qualquer iniciativa em paróquias, capelas ou comunidades pequenas que tem como finalidade conscientizar sobre a importância e necessidade das ofertas e dízimos dos fiéis, deve partir da vivência profunda da fé e da comunhão que une os membros da mesma. Caso isso ainda não exista, deve-se primeiramente investir nesta questão; somente num segundo momento se passa para o tema em questão.

2.      Parte dos recursos adquiridos por uma comunidade cristã deve ser revertida para sua própria formação, assim como dar condições aos novos catequistas e aos veteranos, para se aprofundar nos conhecimentos de sua fé e de sua missão.

3.      A comunidade deve se sentir desafiada a servir sempre e em todas as circunstâncias, mas concretamente lá onde se situa. Para que isso seja possível, os contribuintes devem estar cientes sobre o que será feito com sua oferta e com o seu dízimo.

4.      A comunidade cristã é missionária, mas isso somente acontece quando todos, cada um dentro de suas reais possibilidades, sabem disso e se dispõem a colaborar; uns indo ao “corpo a corpo”, outros contribuindo com seus dons na evangelização.

5.      A formação contínua de uma comunidade depende de avaliações, de reflexões, de oração, mas principalmente do exercício da caridade, levado a sério, sempre de novo.


Pe. Mário Fernando Glaab

sábado, 11 de abril de 2015

Hunsrickisch Schpesje

DIE VERSCHMIATE BUWE

Frija wie die Familie jo noch all so schen deitsch gesproch hon in de Kolonie, do woa das jo alles noch viel enfacha, die Leit sin zusamme gelaaf hun hon Schimaron getrung um iwa das Wetta gesproch, Fackse gemach um sich luschtich velacht. Ach die junge Leit sin suntachs moie gang, hon oach erre Witzja verzehlt.
Do is mo passiat des groat zwoi junge Kelle mo do gehuckt hon wo die Mamai Bosuch hat gehat von de Komodre. Die Komodre, was son schpetich Fraa woa, die hot doch alles benutzt fa Spuchte mache, un die Junge musste imme fetich sen fa net wie die Dumme aussiehn. Wie die Mamai de Kaffi uffen Tisch hat un die ganz Turma oangehest hot, do wore jo doch die Lauskelle bisje nerwes. Dat woa doch das Richtiche fa das spetich Weib. Net lang hot es gedauet un die Junge hatte ach schun das Maul ganz beschmiat mit Sirop un Honich. Die Mamai hot mo geschent: “Kint dea net bessa uff passe! Guck mo wie eia Maul aussieht, dea Schweine!” Oje! Das hat de Komadre groat gepast. Sie soat: Soo? Ich wuscht gonet dass eia Buwe sich oach verschmiere tere.” All muste se lache, un das Schmiererei woa net so schlimm.
Jeder hat sich doch sicha schun mo verschmiat. Gott sei Dank: es gibt jo noch Wassa fa sich abwesche. Wen Heitsenstoge blos die Juchend noch sich so verschmiere tet, dann wer Alles noch viel bessa. Traurich, awe in de Heitiche Toge tut das junge Volk sich mit annere Sache verschmiere, oder bessa, verschweine. Gute un luschtiche Zeite wore das wie die Familie noch bei samme gang sin un hon Schpeschja gemach.
Glaabsmario
Aus União da Vitória – Paranoo

www.marioglaab.blogspot.com

sábado, 4 de abril de 2015

A Igreja em crise?

A IGREJA E SUA MISSÃO: O REINO

            Não é difícil encontrar pessoas preocupadas com uma suposta crise pela qual, segundo eles, a Igreja católica está passando em nossos dias. Dizem que cada vez mais diminuem os que fazem parte dela, ou que de fato são seus membros. Porém, não estão muito preocupados com o trabalho da Igreja no mundo. Por outro lado, surgem cada vez mais igreja e igrejas. Pululam por todos os lados pequenos grupos que se dizem cristãos, mas que confessam sua fé, não em comunhão com a Igreja católica, mas cada qual, de seu jeito em comunidades separadas. Rezam e louvam a Deus, celebram e vivem sua vida, procurando inspiração em Jesus Cristo, mas não na tradição da Igreja católica. Há quem se perturba com isso, e, como os discípulos de Jesus, gostaria de proibir que “eles ajam assim” (cf. Mc 9,38). Tem tanta gente “expulsando demônios” por aí afora, mas “não anda conosco”! Afinal, perguntam: onde está a verdade? Podem fazer isso? Não é somente a Igreja católica quem tem o poder de salvar?

Igreja e Reino
            Não querendo justificar, de forma alguma, as muitas divisões entre os discípulos do único Mestre – que é vergonhoso -, será bom, apesar de tudo, fazer a distinção entre Igreja e Reino. O Reino de Deus que Jesus veio trazer, é bem maior que a Igreja. A Igreja, por sua vez – comunidade dos seguidores de Jesus -, está, como Jesus, ao serviço do Reino. Nunca o contrário.
            Quando os discípulos viram aquele homem libertando as pessoas do mal sem estar com eles, sem fazer parte de seu grupo, se revoltaram. Proibiram o desconhecido de fazer o bem. Mereceram, no entanto, uma reprimenda de Jesus: “Quem não está contra nós está a nosso favor. Não o proibais”. Eles estavam restringindo a ação libertadora de Deus ao seu pequeno grupo. Deus, no entanto, conforme Jesus ensina e age, não se deixa prender na pobre ação de um pequeno grupo. Todas as pessoas de boa vontade são convidadas a colaborar na eliminação do mal e na construção de um mundo mais humano, mais justo e fraterno; onde todos têm acesso à vida, onde ninguém é obrigado a ficar na margem da existência. É justamente nas “periferias” da existência que se veem os sinais da ação do Espírito de Deus atuando. Talvez seja este um dos sentidos da promessa que as mulheres ouvem ao se encontrarem com aquele jovem sentado no túmulo onde Jesus fora sepultado: “... ele irá à vossa frente, na Galileia. Lá vós o vereis” (Mc 16, 7). Na Galileia, periferia do mundo judaico, as coisas acontecem. Lá os discípulos deverão se encontrar com o Ressuscitado. Sem dúvida, não é lá o centro religioso de então.
            Mas, vamos ao que interessa, a Igreja não pode ser confundida com o Reino. Ela sempre deve estar ao serviço do Reino. E, tudo o que é bom, esteja onde estiver, é ação do Reino de Deus; e a Igreja não o pode proibir. Ela precisa apoiar e somar. Claro que pela consciência de que Jesus deixou uma comunidade bem unida, que se alimenta na força do Espírito de amor, a Igreja sempre zela pela sua unidade. Alegra-se por cada membro que, na fecundidade de seu seio materno, gera para atuar no mundo; mas não pode ir contra os que fazem o bem fora dela. Concretamente, fora da Igreja católica existe no mundo um número incontável de homens e mulheres que fazem o bem e vivem trabalhando por uma humanidade mais digna, mais justa e mais libertada. A Igreja deve ver; e mais, ensinar, que também aí está vivo o Espírito de Jesus. Estas pessoas não são adversários, mas amigos e aliados. Não existe um só combate pela justiça – por mais equivoco que seja seu pano de fundo político – que não esteja silenciosamente em relação com o Reino de Deus, embora os cristãos, às vezes não o queiram saber. Onde se luta pelos humilhados, pelos esmagados, pelos fracos, pelos abandonados, ali se luta em favor do Reino de Deus. Deus está atuado no mundo.

Igreja católica e igreja cristãs
            O primeiro desafio, tanto para os católicos como para os evangélicos, é na verdade o de evitar fanatismos. O fanatismo é veneno! Ninguém é melhor que ninguém. Se aqueles discípulos foram repreendidos pelo divino Mestre por se julgarem melhores do que o desconhecido que “expulsava demônios”, o que dizer de nós, hoje? Sejamos humildes! Portanto, o fanatismo é arrogância, ele fecha as portas para a ação do Espírito de Deus fora do pequeno grupo que se julga seleto. Deus, porém, ama a todos indistintamente. E, muito menos, fica limitado para dar suas graças a alguém por não ser deste ou daquele grupo; desta ou daquela igreja. Pensar assim, é projetar em Deus nossas mesquinhas ideias. Fazer de Deus um deus que pensa e age como nós; não o Deus que nos quer todos bem perto dele para nos instruir conforme o seu coração.
            O segundo ponto a ser levado a sério com relação às muitas igrejas, há de ser o interesse para que na mútua-ajuda de todos, a humanidade seja salva; ou que os “espíritos maus” sejam expulsos numa ação conjunta. Que os cristãos, de qualquer confissão, saibam trabalhar para o bem da humanidade na forma de fermento na massa. Saibam somar com todas as pessoas de bem.

Concluindo
            Se existe crise, ela está aí para ser vencida. Querer, todavia, vencer a crise somente com as parcas forças de um grupo pode ser arriscado. Melhor será deixar que a Palavra de Deus ilumine. E, conforme vimos, ela ensina que a crise da Igreja católica (se de fato ela existe e é real) será vencida se os membros da mesma Igreja tomarem consciência que necessitam trabalhar em conjunto com todas as pessoas de boa vontade; a começar com os irmãos cristãos de outras confissões, e, continuar com todos os homens e mulheres que sinceramente trabalham pelo bem da humanidade.
            Ainda: a crise pela qual passa hoje a Igreja católica é uma oportunidade para que nós, seus filhos e membros, como seguidores de Jesus, recordemos que nossa primeira tarefa não é organizar e desenvolver com êxito nossa própria religião, mas ser fermento de uma nova humanidade onda exista vida e justiça para todos. Foi o que a Campanha da Fraternidade propôs durante a quaresma e por todo o ano de 2015.
Pe. Mário Fernando Glaab

www.marioglaab.blogspot.com