sábado, 5 de dezembro de 2015

O cristão e o mal no mundo.

O SILÊNCIO DE DEUS

            Notícias de violência, injustiça, fome, calúnia, mentira, atentados, corrupções, guerras e mil e uma barbaridades são diariamente veiculadas pelos meios de comunicação. Há quem não liga porque ficou anestesiado. Diz que é assim mesmo. Outro se preocupa, mas também não sabe o que dizer ou fazer. Tem, no entanto, também aquele que se escandaliza e, coloca a culpa até mesmo em Deus! Por que Deus se silencia, por que não intervém? É matéria para uma boa reflexão.
            O Papa Bento XVI ao visitar o campo de concentração também fez a inquietante pergunta: “Onde estava Deus?” Ele deixou a pergunta no ar. Não a respondeu, como que dizendo, “responda cada um, conforme a sua fé e sua convicção religiosa”. Será que o Papa estava com dúvida sobre onde Deus estava quando essas terríveis atrocidades aconteceram? Certamente não.
            Por estes dias, alguém, impressionado com os atentados em Paris, mais uma vez perguntou: “Por que Deus não diz nada? Teria Deus se esquecido da humanidade?” É! Quando a dor, a injustiça e a morte violenta tocam diretamente as pessoas, não é de estranhar que tais interrogações surjam. Mas, a fé cristã, quando é verdadeira e profunda, vai além de tudo isso, e encontra a resposta que não é teórica, porém prática e comprometedora.
            Será que não está mais do que na hora de reavivar a fé e a confiança no Deus presente em nossa história e, no mistério da Encarnação do Verbo? O cristão não se cansa de professar que Deus é Pai Criador, Filho Redentor e Espírito de Amor. No entanto, esta profissão de fé não pode ficar no ar, deve, no entanto, ajudar cada um, e também às comunidades cristãs, a se colocarem na atitude de escuta e de resposta comprometedora. Deus, em Jesus Cristo, não está surdo! Ele fala e age a tal ponto de se fazer carne – carne como a nossa, em nossa carne. Deus fala e age onde fala e age o cristão; ou mesmo onde fala e age qualquer ser humano de boa vontade. Deus coloca tudo ao dispor do ser humano: sua força criadora, sua Palavra, sua graça e sua bênção. Basta acolhê-la e assumi-la.
            Ele, Deus, está sempre onde estão as pessoas, preferencialmente os mais necessitados. Ele está, primeiramente nas vítimas, sofrendo com elas as conseqüências das maldades, apoiando, sustentando e perdoando; porém, fala e age igualmente em todos os que consolam, que ajudam e que lutam contra toda forma de violência, de opressão, de injustiça e de morte. Portanto, afirmar que Deus se cala, ou que Deus não está presente em certas situações limites da vida é, em última instância, negar o Deus anunciado e revelado por Jesus de Nazaré e por tantos homens que não se deixaram vencer pelo mal, mas que, apesar de serem crucificados como ele, confiaram e se tornaram testemunhas verdadeiras.
            Deus, onde estás? Lá onde está o pobre, o necessitado, o injustiçado. Também onde estão as pessoas de bem, aqueles que como Jesus de Nazaré sabem abraçar, abençoar, curar e sofrer juntos. Não sejamos covardes, não joguemos a culpa em Deus; mas tenhamos fé e, façamos a nossa parte. Se no mundo existe muita maldade, o compromisso do cristão, e das pessoas de bem, é maior ainda. Ajudemos a tornar a realidade um pouco melhor, mais parecida com o Reino imaginado e inaugurado por Jesus de Nazaré.

Pe. Mário F. Glaab

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Palavras de um sábio ancião.

Um eticamente desqualificado manda a julgamento uma mulher íntegra e ética

03/12/2015

O Presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, é acusado de graves atos delituosos: de beneficiário do Lava-Jato, de contas não declaradas na Suiça, de mentiras deslavadas como a última numa entrevista coletiva ao declarar que o Deputado André Moura fora levado pelo Chefe da Casa Civil Jacques Wagner a falar com a Presidenta Dilma Rousseff para barganhar a aprovação da CPMF em troca da rejeição da admissibilidade de um processo contra ele no Conselho de Ética. Repetidamente afirmou que a Presidenta em seu pronunciamento mentiu à nação ao afirmar que jamais se submeteria à alguma barganha política.

Quem mentiu não foi a Presidenta, mas o deputado Eduardo Cunha. Seu incondicional aliado, o deputado André Moura, não esteve barganhando com a Presidenta Dilma, como o testemunhou o ministro Jacques Wagner. Vale enfatizar: quem mentiu ao público brasileiro foi Euclides Cunha. Imitando Fernando Pessoa diria: Ele, mentiroso, mente tão perfeitamente que não parece mentira as mentiras que repete sempre.

É mentira que seu julgamento foi estritamente técnico. Pode ser técnico em seu texto, mas é mentiroso em seu contexto. O técnico nunca existe isolado, sem estar ligado a um tempo e a um interesse. É o que nos ensinam os filósofos críticos. Ele deslanchou o processo de impeachment contra a Presidenta exatamente no momento em que, apesar de todas as pressões e chantagens sobre o Conselho de Ética,soube que na votação perderia pois os três representantes do PT acolheriam a aceitação de um processo contra ele, o que poderia, depois, significar a sua condenação.

O que fez, foi um ato de vindita reles de quem perdeu a noção da gravidade e das consequências de seu ato rancoroso.

É vergonhoso que a Câmara seja presidida por uma pessoa sem qualquer vinculação com a verdade e com o que é reto e decente. Manipula, pressiona deputados, cria obstáculos para o Conselho de Ética. Mais vergonhoso ainda é ele, cinicamente, presidir uma sessão na qual se decide a aceitação do impedimento de uma pessoa corretíssima e irreprochável como é a Presidenta Dilma Rousseff.

Se Kant ensinava que a boa vontade é o único valor sem nenhum defeito, porque se tivesse um defeito, a boa vontade não seria boa, então Eduardo Cunha encarna o contrário, a má vontade, como o pior dos vícios porque contamina todos os demais atos, arquitetados para tirar vantagens pessoais ou prejudicar os outros.

Seu ato irresponsável pode lançar a nação em um grave retrocesso, abalando a jovem democracia, que, com vítimas e sangue, foi duramente conquistada. Não podemos aceitar que um delinquente político, destituído de sentido democrático e de apreço ao povo brasileiro, nos imponha mais este sacrifício.

Faço um apelo explícito ao Procurador Geral da República, ao Dr. Rodrigo Janot e a todo o Supremo Tribunal Federal: pesem, sotopesem e considerem as muitas acusações pendentes contra Eduardo Cunha nas áreas da Justiça. Estimo que há suficientes razões para afastá-lo da Presidência da Câmara e que venha a responder judicialmente por seus atos.

A missão desta mais alta instância da República, assim estimo, não se restringe à salvaguarda da constituição e à correta interpretação de seus artigos, mas junto a isso, zelar pela moralidade pública, quando esta, gravemente ferida, pode constituir uma ameaça à ordem democrática e, eventualmente, levar o país a um golpe contra a democracia.

Mais que outros cidadãos, são suas excelências, os principais cuidadores da sanidade da política e da salvaguarda da ordem democrática num Estado de direito, sem a qual mergulharíamos num caos com consequências políticas imprevisíveis. O Brasil clama pela atuação corajosa e decidida de vossas excelências, como ultimamente, tem demostrando exemplarmente.
Leonardo Boff, ex-professor de ética da UERJ