sábado, 31 de dezembro de 2016

Sprichja - Hunsrick

Solang wie es geht, geht's jo!

Wie geht es? Och, es geht. Naja, dann geht's jo.

Es geht imma bessa, haupsechlich de Berich runne!

sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Hunsrikisch - Historinha em dialeto alemão sul-brasileiro

DAS MODENNE LEWE

Wie die Modennheit in die Kolonie kum is do is jo Alles annesta gebb. Friia do hot ma jo das Lewe mit Gemitlichkeit oangesihen. Speta is das jo imma schlimma gebb mit dem Rasen. Keine kan jo me gemitlich sei Schimaron trike un iwa das Wetta spreche; es heist imma ma muss sihen dass georwet wet, um dass die Zeit benutz wet. Zeit, son’se, is Geld. Oje, das losst die Leit ganz varickt. Un dan, im dem Corre-corre tun se jo die Helft vergesse, die scheene Sache vun Lewe iwahaupt.
Uff emol hot doch de Fritz vun Capiroweberg mo de Pinhonleopold in de Wende oangetrof, dat in Statplaz, wo die Leit jede Wuch mo hin sin fa erre Geschefte abmache. Wie sie sich gegrist han do hat de Fritz an dem Leopold sein Finge en Zwennfoden oangebun gesihen. Hot ach gleich mo gefrot: “Na, warom hoscht du em Foden an dei Finge?” Dan hot de Leopold erklert: “Ja, das hat mei Frauche gemach; dat solt sen dass ich net vergesse tet de Brief wo sie fa unsa Rudi geschrip hot uff die Post se tun”. “Naja, un hoscht du ihn schun abgeschickt?” frot dan de Annere. De Leopold lametiert: “Gut, ich wolt es jo mache, awa mei weib hot jo doch vegess mir de Brief mitgewe”.
Da is alles Konsequenz vun dem Votschrit. Die Modennezeit tut die Leit all dum un vergess losse. Das Lewe is modenn, awa ich meene sie wea net me so schen um lustich wie um die Zeit wie es woa wie die Televison, die Komputas, um die Internet noch net uff de Kolonie existiert hot. Imma mea veliert ma die lustiche Sache wo die Familie so reich gemacht hot. Das is halt mo so in dem modenn Lewe.

Glaabsmario

segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

O Dízimo aproxima dos pobres.

DÍZIMO E PARTILHA COM OS POBRES

            Nada mais justo e acertado que afirmar que o dízimo é gesto gratuito de “devolução” a Deus por tudo o que dele recebemos. Quem possui consciência de que tudo vem de Deus, como manifestação de seu infinito amor, não tem dificuldade para fazer do seu dízimo a resposta amorosa e gratuita. No entanto, onde e como é possível devolver a Deus os inúmeros dons que dia após dia ele dá a cada filha e filho seu? É suficiente colocar o nome na relação dos dizimistas da paróquia e descontar um valor considerável da renda cada mês, e pronto?
           
Dízimo: devolução generosa
            Diante das muitas iniciativas de conscientização, empreendidas nas últimas décadas, para esclarecer a importância e o verdadeiro sentido do dízimo; ficou claro, para os que dão – e não pagam – o dízimo, que ele é devolução generosa, conforme a fé e a possibilidade de cada um. Fica, porém, algo de estranho no ar: se Deus dá com tanta abundância ao ponto de não reter nada para si – o ser humano é provido de liberdade para administrar a criação -, ele espera ou aceita algo em troca de seu gesto amoroso? Já o salmista se pergunta: “Que retribuirei ao Senhor por todo o bem que me deu?” (Sl 116,12) e se refere à salvação que vem pelo nome do Senhor, sem responder convenientemente. Generosidade é, neste caso, algo que vai além da devolução, pois devolução implica necessariamente uma forma de “pagamento”, mas contém em si mesmo o conceito de gratuidade.
            O generoso é generoso, não porque quer ser bom, mas muito mais, porque experiencia a generosidade gratuita. A generosidade do generoso não está em vista de provocar outros a serem também generosos, porém parte daquilo que é experiência vivida e acolhida. Quer dizer que antes de alguém ser generoso, ele já se experimenta envolvido pela generosidade do outro (Deus). Quem nunca deixou se enlevar por esta experiência nunca poderá ser verdadeiramente generoso.
            Mas então, por que devolução generosa? Quando alguém é generoso ele está devolvendo algo para Deus? O dízimo é esta devolução? Deus precisa dela? Dá o que pensar!

A generosidade e os pobres
            Alguém pode pensar que Deus colocou os pobres no mundo para que os generosos pratiquem sua virtude. Negativo! Isto seria crueldade da parte de Deus. Deus, que é Amor, nunca sacrificaria uma criatura sua para que outra possa ser virtuosa (ainda mais que a generosidade da criatura nunca ser perfeita). Se existem pobres em nosso meio não é por culpa ou planejamento de Deus. Deus fez tudo para ser bom; e, a pobreza não é coisa boa. Nem mesmo a situação de quem é pobre. Se Deus ama o pobre, não é porque Deus o quer pobre. Deus ama o pobre porque o quer bem. A generosidade de Deus é para com todos. Se existem pobres, não é porque Deus é mais generoso para com alguns e menos para com outros. O que acontece é que uns se apossam dos bens que Deus em sua imensa generosidade, coloca à disposição de todos, isto é, dos outros. Assim se desequilibra a harmonia querida por Deus. Alguns ficam com o que é dos outros. A generosidade de Deus é atingida em sua aplicabilidade. É a ganância que tanto sofrimento acarreta para o mundo todo.
            O dízimo como reconhecimento (experiência) da generosidade de Deus não devolve um pouco do recebido a Deus, que não quer nada em troca de seu amor. É, no entanto, continuação da obra de Deus, que é o Generoso. Como ele não pode não amar, ele mesmo, em Jesus Cristo, se identifica com o pobre, para que a nossa generosidade o atinja lá onde está o pobre. Todavia, o pobre – Jesus Cristo – não é atingido por quem quer fazer algo em prol dele, mas somente quando a experiência do amor de Deus o faz estar em comunhão, isto é, quando compartilha os mesmos desafios, as mesmas carências e as mesmas dores do pobre. Generosidade é identificação, assim como Deus, em Jesus Cristo se identifica com todo ser humano, preferencialmente com o pobre.
            Uma paróquia que recebe o dízimo de seus fiéis somente é “dizimista” quando se faz generosa. A sua generosidade é fruto do amor generoso de Deus, manifestado nos membros que a compõem, e por sua vez, é generosa com os pobres, os que clamam por identificação. Talvez seja também isso que o Papa Francisco nos quer ensinar quando insiste em uma “Igreja pobre e em saída”.
            Sejamos acolhedores da generosidade de Deus, sejamos dizimistas generosos para que nossa paróquia possa se identificar com os pobres, e assim se estabelecer uma rede de generosidade: Deus generoso com seus filhos e filhas generosos.

Pe. Mário Fernando Glaab

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Religiões a serviço da paz

AS RELIGIÕES A SERVIÇO DA PAZ

            A volta do religioso é constatado por todos os observadores. A sociedade superou a fase crítica da indiferença e resistência ao espírito religioso. Isto, no entanto, não quer dizer que as religiões, mesmo a religião cristã e católica esteja aumentando numericamente. O que de fato acontece é uma volta ao espírito religioso de cunho mais individual, conforme as opções de cada grupo ou indivíduo. Pergunta-se, este retorno do religioso ajuda a consolidar a paz entre as pessoas e das pessoas para com toda a criação?
            Lamentavelmente deve-se responder que não é bem isso que se vê no cotidiano. O mundo de hoje apresenta um quadro relacional cada vez mais carente de paz. Os conflitos entre os poderosos e ricos desta terra por um lado e os fracos e pobres do outro, trazem como consequência imediata enorme falta de paz. Cada vez mais o direito de vida digna é negado a indivíduos, a famílias, a grupos e a povos inteiros. Isso causa violências, revoltas e mais guerras, e a paz vai pelos ares.
            Basta olhar as manchetes dos jornais para nos escandalizar com notícias de roubos, corrupção, violências, mortes, assaltos e, ultimamente vemos crescer a vergonhosa vingança e perseguição, geralmente infundada e injusta. Assiste-se, estupefato, a ascensão de quem promete construir muros, quando na verdade o mundo precisa de mais pontes. Aliás, todas estas coisas são injustas e, ao invés de contribuir com a ordem e a harmonia, cada vez criam mais desavenças e frustações.
            Os gritos e apelos de milhões de seres humanos são abafados e, pequenos grupos defendem seus interesses particulares. Enquanto famílias inteiras são deslocadas de suas terras e de seus países, os grupos dominadores conduzem seus negócios longe desses miseráveis, sempre na escuridão ou escondendo a verdade. Prometem solucionar os problemas que tanto sofrimento trazem, porém, mantendo as massas alienadas, acarretam cada vez mais dor e morte pelo mundo afora. É triste saber que os alienados (provavelmente sem culpa, pois a mídia os cega e não deixa ver a verdade) aplaudem e elegem seus próprios “açougueiros”!

Paz
            Diante deste quadro macabro, pintado com cores fortes retratando sangue derramado pelas vítimas da ganância, inveja e maldade, pergunta-se sobre a paz. O que vem a ser paz neste mundo onde há tanta carência dela?
            Paz, com certeza, não é aquela que os ricos e poderosos desejam, a “paz dos cemitérios”. Esta é o calar a boca dos pobres para que não perturbem. Dá-se lhes uma migalha para que sejam bonzinhos. Não, isso não pode ser paz.
            A paz, tão almejada pelo ser humano, pode ser resumida na palavra “harmonia”, ou então, estar de bem com Deus, com o próximo e com tudo o que nos circunda. Mas isto deve ser melhor explicado. Esta harmonia é algo duradouro, realização plena para cada pessoa e para humanidade toda. O Papa Francisco lembra que na paz “tudo está relacionado, e todos nós, seres humanos, caminhamos juntos como irmãos e irmãs em uma peregrinação maravilhosa, entrelaçados pelo amor que Deus tem a cada uma das suas criaturas e que nos une também, com terna afeição, ao irmão sol, à irmã lua, ao irmão rio e à mãe terra” (Ludato Si, n. 92).
            A paz, é então um dom que se alcança porque se crê, não no poder do dinheiro, dos ricos e poderosos deste mundo que só sabem explorar, destruir e matar, mas na realidade divina e sagrada que ultrapassa todos esses falsos valores. A paz, alcançada pela fé nessa realidade sagrada, é verdadeiramente paz porque torna o ser humano livre das amarras e de seus próprios impulsos animalescos. Somente homens livres podem experimentar paz e transmiti-la. A fé faz viver. Quem não tem paz, não vive!

As religiões
            Todas as religiões, enquanto tais, no seu ímpeto de estabelecer relações com o Transcendente, com o sagrado, estão, em última análise, procurando a tão desejada harmonia entre o Criador e a criatura: a paz. Cada tradição religiosa concebe esta paz do seu jeito. O cristão, continuando a experiência da religião judaica, a vê como Reino de Deus, da justiça, da fraternidade e da vida em abundância. É próprio de cada religião partir da realidade das relações entre os humanos, lá onde se sonha com um mundo melhor, mas onde também se enfrenta o mundo mau, desumano e destruidor da vida. A função da religião é ultrapassar esta realidade transitória para “entrar” em nova realidade. As revelações que se alcança nas religiões pretendem responder às questões dos humanos e, que assim os elevam para o nível superior da relação harmoniosa. Os limites são transpostos, não pelas próprias capacidades, mas com as que vêm do alto.
            Fé é comum a todas as religiões. Ninguém pode se considerar religioso sem fé, justamente porque a religião o conduz a outra realidade onde há “encontro” com Deus que renova as relações em direção da paz. Podem haver muitas crenças distintas entre as diversas religiões, mas a fé não pode faltar em nenhuma. A fé é fundamental enquanto as crenças e a maneira de expressar a crenças são muito diferentes e superficiais. Às vezes, quando se dá muita importância para as inúmeras crenças, surgem conflitos que muito empobrecem a busca da paz.
            A paz não é propriedade desta ou daquela religião; ela é antes, buscada por cada uma. E, à medida que uma religião ajuda seu fiel a crer na realidade divina ou sagrada, renuncia a tudo que é transitório; e se torna mediação útil entre o crente e a realidade da paz. O relacionamento com essa realidade é a paz, ou ao menos, o início da verdadeira paz. O fiel não alcança a paz porque pertence a uma determinada religião, mas porque crê na realidade transcendente, divina, sagrada, da qual a religião é mediação. A paz, é então, mais que sossego; é um estado de espírito, uma forma espiritual de crer e de viver harmoniosamente.
            Mesmo que frequentemente as religiões se tornaram culpadas por ambiguidades e até por sofrimentos, frutos de mecanismos violentos; isto não tira seu valor intrínseco na busca da paz para todos. O que acontece, nestes casos, é que se esquece a fé fundamental e se coloca em seu lugar crenças e costumes que dividem e fanatizam. Nenhuma religião pode incitar seus fiéis à violência. E como diz um teólogo de nossos dias: “(Nas religiões) a reocupação em vencer não deve prevalecer em relação ao convencer, e o convencer não pode ser condição para conviver pacificamente” (Elias Wolff, coordenador do Núcleo ecumênico e Inter-religioso da PUCPR).

Conclusão
            A paz é anseio universal. Porém, alguns a procuram egoisticamente só para si ou para o seu pequeno grupo. Ignoram os demais e, por isso, usam meios, os mais deploráveis, quais são a exploração, o roubo, a corrupção e múltiplas formas de violência. Enganam-se, pois a paz não consiste nestas coisas. Mesmo que todas as religiões sejam intermediárias entre seus fiéis e a realidade sagrada, alguns as usam com intenções falsas: aproveitam-se delas para, mais uma vez extravasar sua ganância egoísta. Alienam os mais fracos, dando-lhes a ideia de que observando certos costumes e escondendo-se atrás de determinadas crenças, são possuidores e promotores da paz.
            Todavia, as religiões contribuem para a paz na humanidade quando ensinam a ser com o outro, ensinam a conviver social e espiritualmente com o outro, a buscar com o outro, dialogar com o outro. Talvez este seja o primeiro passo no rumo da paz duradoura, com a qual todos sonhamos; e que Jesus Cristo anunciou e proclamou. É preciso ter coragem para converter, não somente a nós mesmos individualmente, mas também as nossas religiões.
Pe. Mário Fernando Glaab

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quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Meditar e refletir

CRER É PRECISO, PENSAR TAMBÉM

            Sem entrar na complicada discussão da relação entre razão e fé, entre conhecimento científico e conhecimento infuso, queremos refletir e meditar sobre “crer” e “pensar”. Pois se alguém afirma que hoje, mais do que nunca, é preciso crer, devemos completar, e pensar também. Aliás, os tempos e as situações, no percorrer da história, mudam, mas os desafios são sempre os mesmos. O ser humano não deixa de ser impulsionado a procurar respostas para os questionamentos mais existenciais, tanto na dimensão da fé quanto na dimensão racional.

            Se acreditar é fruto da fé, é consequência da adesão consciente a Alguém ou a algo que escapa da demonstração científica. Neste caso, ter fé é mais do que aceitar simplesmente. Na verdade, a doutrina cristã ensina que a fé é uma das três virtudes teologais, isto é, infusas por Deus na pessoa que acolhe Jesus Cristo como Senhor no batismo. É, então, um dom que o fiel recebe, mas que ele precisa desenvolver. Claro que não se pode restringir a fé somente aos cristãos, achando que outras pessoas não possam ter fé.  Deus não está amarrado aos nosso esquemas sacramentais; eles, porém, são o caminho ordinário que por meio de Jesus Cristo nos levam ao mistério de Deus.
            Não resta dúvida de que o ser humano, sempre foi e sempre será convidado a sair de si, de suas respostas imediatas, e se elevar a uma outra esfera, a esfera do sobrenatural. Nem mesmo as respostas da filosofia satisfazem o profundo desejo de conhecer o sentido da vida, do Transcendente e do mundo. Justamente aí entra o convite à fé. Deus, de mil e uma maneiras se comunica aos humanos – sempre em “linguagem” humana -, para que saiam de si e tenham fé. No entanto, Ele não obriga ninguém a fazer isso. Ele não dá sinais que possam ser comprovados em laboratório ou calculados matematicamente. Ele propõe, convida e aguarda adesão. É misterioso o fato de alguns crerem e outros não crerem. Mas, a fé igualmente não pode ser mensurada com medidas humanas. Quem pode entrar no íntimo do coração alheio para lhe medir a fé ou a falta de fé? Na verdade há dois tipos de pessoas que afirmam a necessidade da fé: aqueles que a possuem e aqueles que não a têm mas a confundem com sua preguiça de pensar. Estes últimos justificam seu comodismo ou sua incapacidade de pensar dizendo que é preciso crer, uma vez que as coisas são muito complicadas para ser entendidas.

Razão
            É próprio da razão humana pensar. Seu pensamento, quando bem ordenado, busca respostas para os mais diversos questionamentos da vida. No decorrer da história o pensamento humano fez enormes progressos, conquistou muitos conhecimentos, desenvolveu os mais diversos saberes que, além de satisfazerem muitas curiosidades, tornam mais digna e mais prazerosa a vida humana. A tecnologia – fruto do desenvolvimento científico -, quando colocada a serviço do bem de todos, facilita a comunicação e a colaboração entre as pessoas, tornando a vida mais alegre e menos assustadora diante de tudo que se lhe opõe.
            Como o ser humano é ser-pensante, nada justifica renunciar a tal propriedade. Quanto mais humano alguém quer ser, mais pensante deve ser. Nada o dispensa de procurar respostas diante de sua “curiosidade” frente ao mundo e frente aos desafios da própria vida, da vida dos outros e de toda a criação. Passar por esta vida sem pensar seria o mesmo que passar por inúmeras oportunidades de se realizar e de ajudar na realização dos outros, e nada fazer. Seria dizer: eu não posso ajudar, mas creio que Deus o faz por mim. Isto, na verdade, seria covardia. Seria atribuir a Deus o que é da responsabilidade humana.

Meditar e refletir
            O homem de fé medita, o homem que pensa reflete. Isto, todavia, é muito esquemático, pois a meditação conta com a reflexão, e a reflexão conta com a meditação. Somente medita quem reflete e, a reflexão abre portas para a meditação. Como vimos, a fé é um dom gratuito de Deus, aceito e cultivado livremente pelo ser humano. Mas isso não o dispensa da busca incessante de respostas para os desafios da vida e do mundo. E, o ser humano que reflete, mesmo que não tenha fé, pode se sentir impulsionado a dar um passo para o além, para o Transcendente. Seria o passo para a fé.
            Crer é preciso, no entanto, pensar também o é. E, pode-se dizer mais ainda: ninguém pode ser forçado a crer, mas quem não quer pensar, também não pode exigir nada do relacionamento humano, uma vez que ele não colabora com nada. Crer é graça, pensar é dever humano.

               Crer por não querer pensar é covardia; pensar para crer é heroísmo.
Pe. Mário Fernando Glaab

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sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Hunsrickisch Geschitje

DAT FISCHEREI

            Fria wie mea all noch Kinna wore, so freche Kurizzode, do is doch Allehand intressantes passiat. Mea hatte doch dicht bei uns die Rio; de Fluss is doch groat so viahunnet Meta hinna unsa haus dorich gelaaf. Wo mea gewoht hon dat wo jo so en schen Platz: de Fluss, dat Potrea mit grosse Beim vun alle Satte, de Wech wo de Berich nuff gang is, die Heissa – unsres un de Nochbas eres – die Kuhstell, Schweinestell, Hinkelstell, die Paiol un was noch alles debei geheat. Dat hat alles herlich ausgesien.
Wen mo so via oda finf Kuri beisamme wore, do is Allehand oangefang gep. En schene Toach, so in en heise Sommanommintach, do wolte die Lausbuwe mo fische gehen. Naja, Werm honse sich gesucht un mo die Angle sammegeraft. Gleich wore se ach an de Riobaranke. Schun hot de een geschroit: “Chá pekei um lampari”; de annere: “eo um Kará. É pequene, mais eo chá coloquei outra minhoc, e vo tirá um pintode”. Un so is dat so em Zeit gang. Jede wolt jo doch de beschte Fischa sen, un die meiste un greste Fisch fange. Wie awa mo so em Stunn rum wo, do wo de Luscht vobei. Uff emol sot de grescht von de Kuri: “Eo vo tomá panho; o ákua tá worem”. Dat wo blos ruck um zuck un Jede wolt doch so schel wie ficks in das Wassa.
Ja, sich se bote in dem worem Wassa, das wo jo schen um gut; awa di Kurizzode hatte doch kei Botshose, un die Unnahose deft doch net nass gemach werre, das die Mama das net rausgriche tet.Die Mama hat doch imma oangehal, die Buwe solte net in’s Wassa, dat wea so geferlich. Die Junge hon awa gokei Zerimonie gemach. Die hon mo geguckt ob grot kei Weibsmensche in de Neh were, un dan Alles ausgezoh: Hose, Hemd un Unnahose. Do honse gestan wie Adam un Ev im Paradies, puddeleschichnackich! Naja, das wo jo ach net de greste Scandal. Die Kelle wolte sich doch mo bisje vergniche.
Awe, awe! Uff emol hat ma spreche an de Barranke geheat. Un werklich, dat wo doch die Mamai mit de Komadre un ihre Tochta, tat Mariche wo schun so en Medche woa. Un jetz? Keine deft doch aus dem Wassa, weil se doch sich net so zeiche kinte. Parbaritode! Blos die Kepja hon raus gekuckt. Noch net mo schwemme wo meglich, weil dan de Hinnre zum voastand komme kint. Die weiwa hon dat gestan un geschtaunt: “Was macht dea in dem Wassa? Wen dea fosauft! Dea hat doch gonet gebeicht in de letzte Toche, dea kommt in de Hell. Gleich raus!” Wie dan de ene Kuri mo gesot hot “ja, mea wolle raus awe mea kinne jo net”, do hot die Mamai es schun verstan. Sie soat iwa die Komadre “komm mea gehn hem, die Kuri komme oach gleich. Dat Marichen wolt jo ken noch bisje watte, awe die Muttre hon das doch net erlaupt.
So hat die Fischerei sich geend, um Alles is gut ausgang. Gute Zeite!

Glaabsmário

sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Igreja "em saída" e Igreja "em entrada"

O PERIGO DE SER “RELIGIOSO”

            Existem religiosos e “religiosos”. Não quero falar dos religiosos, daqueles que pertencem a ordens ou congregações religiosas e que o são por vocação. Quero, no entanto refletir sobre uma outra concepção de religioso, que em si não tem nada de extraordinário, mas que, pelo fato mesmo de ser religioso, está em contínuo risco de se desviar do que lhe é próprio.

Religiões e religiosos
            As religiões têm como finalidade específica religar a Deus; ou estabelecer uma via entre o Transcendente e o Imanente, entre Deus, o ser humano e as criaturas. Aqueles que optam por uma religião tornam-se religiosos, por “utilizarem” este caminho que os une a Deus, com os demais humanos e com toda a criação. No seguimento religioso os indivíduos se tornam presença no mundo da realidade que vai além do que é somente do mundo. Em outras palavras, mostram e realizam concretamente a atuação de Deus no emaranhado das coisas e acontecimentos da história deste mundo.
            As religiões e os religiosos, como se pode ver, são de extrema necessidade para que a realidade onde se encontram as criaturas possa ter respostas que vão além do imediato. Dar sentido para questões que não encontram significado somente nas explicações científicas, técnicas, econômicas; muito menos na sede do poder, do prazer e do ter. As religiões e os religiosos convidam e levam para valores que ultrapassam estes falsos valores, que na verdade, não libertam, mas prendem e escravizam. Tornam a vida e os relacionamentos humanos insuportáveis. Assim, um mundo sem religião é um mundo sem significado; mas, o mundo religioso é estabelecido em relações novas e valores que dão sentido para opções que não são percebidos sem a presença da religião.
            Até aqui não estamos falando desta ou daquela religião específica, sabendo que no passado e no presente existiram e existem inúmeras religiões, cada uma com suas qualidades boas e com suas dificuldades e limites; todas, no entanto, procurando estabelecer o contato entre o divino e o humano. Pretendemos agora nos referir à nossa religião cristã, mais diretamente à Igreja, da qual também nós somos membros e que faz de nós religiosos.

Igreja “em saída” e Igreja “em entrada”
            O Papa Francisco insiste, e volta a insistir, numa Igreja “em saída”. Se ele insiste nessa questão, podemos nos perguntar sobre o contrário: Igreja “em entrada”, o que é isso? Certamente esta Igreja está por aí, e está camuflada ao ponto de muitos não a verem. Estejamos atentos.
            Mas, o que o Papa entende com Igreja “em saída”? Ele mesmo explica: uma Igreja que se envolve com todas as realidades humanas; uma Igreja que, por causa de Jesus Cristo – seu Mestre e Senhor – não tem medo de se machucar no encontro com os machucados da vida. Uma Igreja que busca levar a todos a Boa Notícia de que Deus é um Deus misericordioso e libertador. Deus quer levantar todos, sem discriminar ninguém. E por isso se faz um com todos, principalmente com os mais esquecidos e necessitados. Igreja “em saída” é a Igreja que anuncia e realiza a salvação do mundo, pois leva a todos o próprio Salvador, Jesus Cristo.
            A Igreja “em entrada”, por outro lado, deve ser o contrário. Isto é, uma comunidade que se fecha sobre si mesma. Ela está preocupada em se autodefender, cuidar-se para não se contaminar com os males que afligem a humanidade. Mais do que isso, ela se acha boa. Ela possui saúde, pois Cristo, o Divino Médico é posse sua. Todos os que aderem a ela estarão protegidos, contanto que se “abriguem” à sua sombra e não se exponham aos ventos frios das ruas do mundo. Triste constatação: Era assim que Jesus quis a sua Igreja?
            Aliás, sabe-se que há uma tentação muito forte entre os fiéis da Igreja no sentido de buscar refúgio contra os ataques do mundo infestado pelo mal. È bem mais fácil se fechar num templo e lá, junto com irmãos seletos, louvar o Senhor, do que estar nas ruas e vielas das cidades ou dos campos onde estão os caídos à beira dos caminhos, vítimas da violência, dos vícios, das incompreensões, dos preconceitos e das expulsões, até mesmo das comunidades de fé. Esta Igreja, porém, se atrofia, fica doente, pois o Espírito de Cristo impele os discípulos de Jesus a saírem para os confins do mundo. As portas e janelas fechadas são sinais de medo, de falta de fé no Ressuscitado. Uma vez que o Ressuscitado derramou seu Espírito sobre os discípulos medrosos, eles não podem mais ficar fechados; necessitam sair e pregar a todos, sem medo e sem vergonha. Testemunhar que Ele vive e que quer curar todos os males da humanidade. Ele o faz pela Igreja, concretamente pelos seus fiéis, discípulos verdadeiros de Jesus de Nazaré.

Religiosos perversos
            Por incrível que pareça, as religiões podem perverter seus religiosos. Isto acontece quando as religiões domesticam as consciências dos fiéis. No nosso caso, o cristão, que deve ser sempre chamado, convocado e seduzido por Jesus Cristo a sair, como discípulo dele pelo mundo ao encalço dos pobres e pecadores para “ressuscitá-los”, mas que encontra na Igreja somente consolo e paz de consciência e se sente protegido, é um típico “religioso em perigo”. Este, na verdade, está buscando “seu ninho” na Igreja onde pode viver tranquilo e não ser infectado pelos vírus que estão “lá fora”. A pureza em excesso se torna psicose maníaca!
            Deve-se desconfiar dos religiosos que se julgam melhores que a grande maioria das pessoas. São tantos os religiosos que por causa de sua condição e status conquistados, esquecem ou até desprezam os demais. Gostam de ser lembrados como ministros, catequistas, diáconos, padres, bispos...; fazem questão dos títulos de destaque – excelência, reverência, ilustre senhor(a) -, usam vestes distintivas para serem diferentes e procuram os primeiros lugares. O termo “irmão” perde seu significado verdadeiro entre eles. Pior, quando na comunidade existem rixas e ciúmes, um competindo com o outro pelos postos melhores e mais importantes.
            Um exemplo típico da perversão dos religiosos são os símbolos do cristianismo transformados em símbolos de poder e de dominação. A cruz, que lembra Jesus de Nazaré humilhado até o extremo, abandonado por todos (até pelo Pai!), condenado pelos líderes religiosos e políticos de seu tempo, chega ao absurdo de ser desfigurada em objeto de poder e de dignidade, que se coloca sobre o peito de imperadores, militares, homens ilustres; é colocada em tribunais, locais públicos e mesmo nas casas. Cruzes de ouro e de pedras preciosas. Cruzes que são uma zombaria da dor e do fracasso de todos os seres humanos nos quais Jesus continua sofrendo e fracassando nesse exato momento. Mas para os religiosos ela é sinal de dignidade e proteção.
            Que tal, se soubéssemos ver nas cruzes que “enfeitam” nossos peitos e nossas salas os irmãos sofredores de hoje? Ou até substituir o crucifixo da parede por uma foto de crianças assustadoramente magras e famintas, por refugiados de todos os tipos, por sem-terra e sem-teto, por homens e mulheres de rua mal cheirosos e maltrapilhos? Talvez afastaria da tentação da “religião de proteção”, do “perigo de ser religioso”.
            Ter religião e ser religioso é preciso; mas bem entendido, para que o mundo possa ser um pouco melhor. Nunca para que o homem e a mulher “religiosos” possam se sentir melhores que os outros.
Pe. Mário Fernando Glaab

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sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Novos tempos na pastoral

PASTORAL ATUALIZADA

            A Igreja, em todos os tempos de sua existência pelos séculos afora, sempre teve consciência de que, a partir do ordem de Jesus de levar a Boa Nova a todas as criaturas, sua missão é pastorear, isto é, trabalhar pastoralmente, ou fazer pastoral. Sem dúvida, conforme as épocas e as diversas circunstâncias, esta tarefa teve mais ou menos importância; mais ou menos intensidade, contudo, nunca deixou de estar presente nas atividades evangelizadoras da Igreja. Dito isso, voltemo-nos para a questão que se coloca diante de nós hoje: como a Igreja deve atuar em nossos dias para que a sua atividade pastoral responda aos anseios e necessidades do mundo hodierno? Ela responde às perguntas que o nosso povo faz hoje? Responde a esta gente que vive em situações cada vez mais desafiadoras e complexas; ou pretende responder às questões que ninguém mais coloca, sempre do mesmo jeito como respondia no passado?
            Muito se discutiu sobre isso. Muitas contribuições de especialistas estão ao dispor de quem busca por análises, aliás, o Magistério da Igreja continuamente produz orientações a nível mundial, nacional, regional e até nas dioceses e nas paróquias. Porém, isso não dispensa a preocupação de cada um no sentido de se atualizar e colaborar na busca dos melhores instrumentos para uma pastoral eficiente e adaptada à realidade das pessoas de nossas comunidades concretas, aos seus anseios e desafios. Assim, não pretendemos apontar para soluções acabadas – seria muita pretensão! -, mas apenas contribuir com algumas reflexões e sugestões.

Mundo agitado
            Usemos a imaginação: se um pároco que viveu há cem anos atrás em uma paróquia do interior de nosso vasto país chegasse hoje para continuar o seu trabalho no mesmo lugar, como seria? Pobre coitado! Independentemente das suas qualidades intelectuais e morais; até mesmo se tivesse sido um santo, ele não se adaptaria mais, de forma alguma, à sua paróquia que, por força das muitas mudanças na sociedade, já há bastante tempo não é a mesma. Ou ele precisaria passar por uma longa transformação – com certeza impossível -, ou não faria mais nada; e provavelmente impediria qualquer avanço da paróquia.
            A paróquia pacata e centrada no padre já não existe mais. A situação está toda mudada. A porcentagem de fiéis que são totalmente alheios à Igreja aumentou assustadoramente; os que “fiéis oportunos” – que aparecem lá de vez em vez quando têm uma criança para batizar, um casamento ou exéquias -, são um desafio constante; e, os que podem ser considerados paroquianos verdadeiros subdividem-se em muitos grupos. Alguns superativos, envolvidos nas diversas pastorais e movimentos; outros com estilo mais tranquilo, no entanto, bastante críticos. O padre necessita estar presente em toda a paróquia e junto a todas as atividades. Questões morais, das mais estranhas, fazem parte do cotidiano; e os problemas administrativos não são esporádicos. Além de tudo isso, existem os planos pastorais da Igreja a nível nacional, diretrizes e urgências. Roma não deixa por menos: documentos pontifícios aparecem continuamente.
            Isto é apenas um pouco do mundo agitado onde se encontram as paróquias; mais nos grandes centros, talvez pouco menos nas pequenas comunidades do interior; contudo, em toda parte os desafios são enormes. Aí o pároco, com uma boa equipe, deve se lançar de corpo e alma à pastoral. Pastoral atualizada e sempre em atualização.

Boa pastoral não é sinônimo de sucesso
            A mentalidade atual quer fazer crer que sucesso é o mesmo que bom trabalho. Não é verdade. A longa experiência da Igreja convida a ir mais a fundo na questão. Em se tratando do anúncio do Evangelho, o fiel há de saber que a dedicação é importantíssima, mas não é tudo. Algumas vezes os frutos não surgem onde se planta com grande esforço, mas aparecem onde menos se espera, ou mesmo onde pouco se investiu. Depara-se aí na questão do mistério da graça. Jesus falou sobre isso quando comparou o crescimento do Reino à semente que é lançada na terra e que germina e cresce sem o agricultor saber como isto acontece (cf. Mc 4,27).
            Contudo, nem hoje nem no passado pode se dispensar a dedicação dos pastores e agentes de pastoral. Até mesmo na parábola que Jesus contou ele não esquece do semeador. O trabalho dedicado de quem semeia, prega ou organiza as pastorais na comunidade é indispensável. Além de exigir muito esforço, precisa ser feito de tal maneira que sempre esteja lá onde está o interesse das pessoas, isto é, estar no lugar onde as pessoas procuram chegar. Se nem toda boa pastoral leva a sucessos imediatos e visíveis; com certeza, os sucessos pastorais que aparecem nas comunidades têm atrás de si muito trabalho e pastorais bem planejadas e criativas.

Novos meios de comunicação
            A mensagem evangélica é sempre a mesma: Deus Salvador entre nós. Mas o jeito de levar esta mensagem às pessoas de hoje não pode continuar como era nos tempos passados. Já não se busca conhecer o Evangelho somente em “sermões” ou em “aulas de catecismo”, mas os olhos e ouvidos das pessoas estão nos modernos meios de comunicação. É difícil encontrar um jovem, um adolescente e, mesmo uma pessoa adulta que nãos esteja conectada às redes sociais, que não esteja com seu celular ao toque de sua mão. A televisão e a internet estão em toda parte. E, em tom de brincadeira, podemos dizer que se não quisermos que Deus seja expulso do lugar que lhe é próprio (em toda parte), precisamos garantir-lhe seu posto em todos esses novos meios de comunicação, caso contrário, eles o dispensam! A pastoral, para ser válida também hoje, necessita inserir seu conteúdo evangélico em toda parte, aproveitando qualquer brecha que encontrar nos meios de comunicação que todos usam.
            Neste sentido é que se deve falar dos planos para a ação pastoral. Estes planos nunca podem partir de especialistas somente. Devem, sim, contar com profissionais pensantes que sabem olhar para a realidade; contar com a experiência de líderes que caminham com as comunidades; que sentem as alegrias e as tristezas, as angústias e os sucessos dos homens e das mulheres nos desafios do dia-a-dia. A partir de tudo isso, iluminados pela fé que se professa expressamente, mas igualmente pela fé que o povo muitas vezes não consegue expressar, elaborar planos, projetos a formas novas de evangelizar. Mais com o intento de ser Igreja-Sacramento-da-Misericórdia-de-Deus do que Mestra que ensina; mais como serva que vai aprendendo e se moldando ao novos desafios da vida e das comunidades que “Senhora Sábia” e que está acima de qualquer problema.
            Neste sentido, tanto gestores como agentes de pastoral estão na mesma luta. Cada um no seu devido lugar, mas unidos pela mesma vontade de ajudar na construção de uma sociedade mais justa, mais fraterna; lugar onde todos podem viver com dignidade, viver sua fé, sua esperança e sua caridade; dando oportunidade para que Deus ocupe o seu lugar em toda parte. Este será um projeto que passa do teórico para o prático, e que colabora verdadeiramente com a implantação progressiva do Reino de Deus neste mundo, mesmo que o nosso mundo não seja mais como ele era a cem anos atrás. O nosso mundo agitado também precisa de Deus. Nós, como Igreja, temos nossa parte de responsabilidade neste processo.
Pe. Mário Fernando Glaab


quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Dízimo é gratuito

DÍZIMO E GRATUIDADE DE DEUS

            Apesar de todas as explicações e reflexões que se fizeram nos últimos tempos, pode parecer que os dois conceitos – dízimo e gratuidade de Deus - não se harmonizam totalmente. Mesmo que a Pastoral do Dízimo, nas últimas décadas, tenha insistido enormemente para mostrar que o dízimo não é “pagamento”, mas oferta de amor, ainda permanece certa dúvida e até convicção, talvez escondida no profundo de nossa religiosidade, de que o dizimista fiel recebe mais bênçãos que o não-dizimista. Aliás, se Deus é justo, justiça se faz. O Deus da Gratuidade sem limites para com todos é outro assunto, que não convém abordar quando se fala de dízimo. Mas, vejamos.

Jesus e a generosidade
            Na verdade, a ideia de que Deus dá a suas bênçãos aos bons dizimistas é veterotestamentária. Jesus nunca ensinou isso. Jesus, em toda sua pregação e nos seus feitos, anunciou uma ilimitada confiança no Pai que não faz distinção entre seus filhos. Conforme Jesus, o Pai do Céu faz o sol nascer sobre os bons e os maus, chover sobre justos e injustos (cf. Mt 5,45), pois todos estão incluídos no seu amor paterno. O que Jesus anuncia e instaura é uma nova realidade, onde todos têm acesso à misericórdia de Deus. Onde a vida é valorizada naquilo que é: dom de Deus. É, em outras palavras, o Reino de Deus na terra. Neste Reino há abundância para todos, pois será vida em plenitude.
            A tarefa da Igreja, mãe generosa, é ser sinal eficaz do Reino de Deus no mundo, para que todos possam ter acesso à vida plena. Quem a experimenta, ou melhor, a vivencia a vida em plenitude, não pode mais se fechar no egoísmo que quer tudo para si. Abre-se para compartilhar com todos o que encontra no Reino. Abandona qualquer iniciativa de comércio ou barganha com relação a Deus ou ao próximo. Seu partilhar é pura generosidade. Acolhe o Reino com simplicidade; compartilha os bens na visão do Reino generosamente sem esperar nada em troca. Toda doação é fruto da pertença ao Reino, ou melhor, o Reino do Pai é a base de qualquer gesto cristão que assim se torna gratuito, como é gratuito o Reino.
            Deus não se deixa vender e nem ser comprado. Não aceita oferendas manipuladoras, mas se dá com alegria aos pequenos e aos pobres. Aliás, Jesus o louva por isso, ao exclamar: “Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequenos. Sim, Pai, assim foi do teu agrado” (Mt 11,25). O louvor de Jesus é a revelação da alegria do Pai. À medida em que o ser humano começa a entrar na ótica de Jesus, ele igualmente sente alegria ao se poder doar. Estas são coisas que o mundo não consegue entender, pois são escondidas aos sábios; não porque Deus as escondeu, mas porque ele tem outros interesses. O que procura não confere com o que os pobres e pequenos buscam. Ele corre sofregamente atrás de bens materiais, do dinheiro, do poder, da fama e do prazer. Os filhos do mundo estão anestesiados diante dos valores do Reino.

Dízimo é sinal do Reino
            Tendo como base a gratuidade com Deus nos oferece a participação em seu Reino, podemos apresentar o dízimo na visão cristã. Ele não é recomendação, ou mandamento de Jesus. É bem mais do que isso. É fruto autêntico do único mandamento de Jesus, o amor. Aquele que ama é do Reino. No Reino a vida é partilhada.
            Dar o dízimo na comunidade de fé e de vida, nada mais é que compartilhar o Reino que buscamos e que recebemos gratuitamente de Deus e dos irmãos. Dar o dízimo para que a comunidade tenha condições de existir é aprender sempre de novo a realidade nova do Reino de Deus. Não se mede a generosidade pelo valor pecuniário do dízimo, porém pela consciência da pertença do fiel ao Reino de Deus. Uma vez que no Reino de Deus há vida para todos, o dizimista colabora com sua generosidade na construção da vida do Reino em sua comunidade.
            Portanto, o dízimo cristão não é uma forma sábia que a Igreja encontrou no decorrer dos séculos para sobreviver e para adquirir as bênçãos e graças de Deus em favor dos seus fiéis, mas é partilha generosa com os irmãos da comunidade, resposta generosa de quem experimenta e vive a gratuidade de Deus na construção do Reino em meio os desafios do mundo. Mesmo que a sociedade em geral prega o egoísmo, o consumo desenfreado, a falcatrua, e tudo o mais que divide as pessoas, o dizimista continua testemunhando as coisas “escondidas aos sábios e entendidos” mas reveladas aos pequenos, os benditos do Pai, o amor generoso que sabe se doar como Deus se doou em Jesus.

Pe. Mário Fernando Glaab

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Pastoral hoje.

PASTORES CONVERTIDOS – PASTORAIS CONVERTIDAS

            Nos últimos anos, principalmente a partir da V Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e do Caribe em Aparecida, falou-se muito sobre a conversão pastoral, tão necessária para a Igreja, para os pastores e para cada cristão que pretende levar a sério o Evangelho no contexto em que vive, concretamente, na comunidade onde se encontra. Comunidade esta que é sempre perpassada por sociedade extremamente plural, com situações muito diversas: gente boa, menos boa e má; gente que vive na prosperidade, gente que possui o necessário para bem viver e, muita gente que vive na carência do que é preciso para uma vida digna, que pode ser resumida nos termos técnicos: teto, trabalho e terra.

Pastor e pastoral
            Não há muito que discutir, para o cristão, ser pastor é ser parecido com Jesus de Nazaré, que desde o início da missão até o fim, sempre se apresentou e agiu como o Pastor por excelência. Ele é, e sempre haverá de ser, o modelo para quem pretende colaborar com a Igreja no pastoreio das milhares de ovelhas que andam pelos prados deste imenso continente latino-americano, tantas vezes machucadas, perdidas e famintas. O pastor, a exemplo do Mestre de Nazaré, necessita ir ao encalço das que estão extraviadas e excluídas pela sociedade que, como o lobo feroz, devora e destrói violentamente. Sem dúvida, para continuar a missão de Jesus no hoje da história e no aqui da realidade, o Evangelho necessita de atualização. Precisa ser reinterpretado a partir de onde cada pastor está – junto das ovelhas. Não dá para esquecer que o Espírito Santo que impulsionou Jesus a ir ao encontro da ovelha perdida, já vai na frente de qualquer empreendimento pastoral. Ele está lá, esperando que o pastor o descubra e o deixe agir. Ele, o Espírito, não fala; mas quer iluminar o pastor para que proclame aí a Palavra, que é o Cristo. O pastor, então, longe de se apresentar com palavras prontas, vai para junto das vítimas de todas as espécies - em uma palavra -, junto aos pobres. Lá irá reinterpretar a Boa Notícia que Jesus de Nazaré não cansa de anunciar: “O Espírito do Senhor está sobre mim, pois ele me consagrou com a unção, para anunciar a Boa-Nova aos pobres” (Lc 4,18).
            A pastoral, longe de ser um “empacotado” que vem de cima, pré-concebido nas secretarias paroquiais ou diocesanas, será experiência concreta da vida querida, amada e protegida nas mais diversas situações e desafios que o nosso mundo apresenta. Planejamento não será dispensado, mas a metodologia usada em uma pastoral convertida há de ser a que o Espírito indicar em cada caso. Conforme as pessoas, sua cultura, suas tradições, seus costumes, porém especialmente, diante dos desafios mais prementes da comunidade, à luz da Palavra de Deus, da experiência do amor vivido por séculos na Igreja, escolher-se-á o melhor método de evangelizar. Esta será a pastoral convertida.

Novos conceitos e novas posturas
            O Papa Francisco nos lembra com propriedade que a Igreja deve ser “Igreja em Saída”. Mesmo que oficialmente a Igreja deixou de lado a preocupação do proselitismo, ainda existem fortes resquícios desta prática em numerosos cristãos de hoje. Isto se verifica quando nos planejamentos pastorais se olha em primeiro lugar para aqueles que normalmente participam das celebrações litúrgicas nas igrejas, contribuem com seu dizimo, têm seu filhos na catequese, fazem encontros de formação etc., e se constata, com tristeza, que são poucos. A partir desta constatação, para aumentar o número dos “arrebanhados”, procura-se encontrar o método mais conveniente para convencer o maior número possível. É o caso do pastor que diz consigo mesmo: “graças a Deus, eu tenho a igreja sempre cheia!”, e às vezes faz comparações com as paróquias dos colegas que não têm tanta sorte assim.
            Nossos tempos exigem novos conceitos e novas posturas para o trabalho evangelizador, deixando de lado a preocupação com o proselitismo, e mais ainda a competição com outras igrejas. “A Igreja não faz proselitismo. Ela cresce muito mais por ‘atração’: como Cristo ‘atrai todos a si’ com a força do seu amor, que culminou no sacrifício da cruz, assim a Igreja cumpre a sua missão na medida em que, associada a Cristo, cumpre a sua obra conformando-se em espírito e concretamente com a caridade do seu Senhor” (Bento XVI na Missa de Inauguração da Conferência de Aparecida).
            Se amor de Cristo o levou a estar junto das vítimas de todos os tempos, e assim, com eles ir à cruz, um conceito de pastoral verdadeiramente novo que gera nova postura não pode ser outro, a não ser o de estar do lado das vítimas e dos pobres em geral, mesmo que isso leve também à cruz. Esse novo conceito e essa nova postura desafiam a todos nós, mas quem não estiver disposto a tomar sobre si a sua cruz, também não é digno do verdadeiro Pastor Jesus.
            Na história do cristianismo já surgiram inúmeras preocupações para manter a Igreja bem protegida de ataques externos. No entanto, a história também ensina que muitas vezes essas preocupações, quando não bem fundadas no Bom Pastor, fizeram grande mal. Quem, no afã de ser ortodoxo, divide, separa, exclui, marginaliza ou condena, é um dos piores inimigos da Igreja e do Evangelho. Às vezes, esse inimigos são os que parecem “piedosos” e, com frequência estão entre os que têm cargos de autoridade e poder na Igreja. Cuidemos para ter ideias e conceitos claros para nãos nos tornarmos inimigos da Igreja ou sermos cúmplices dos inimigos.
            Portanto, tanto a Igreja quanto os pastores da Igreja necessitam de conversão. E sempre de novo. O Bom Pastor é o grande ideal. No entanto, as tentações de se fazer pastor e pastorear em seu próprio benefício estão sempre presentes. A conversão é um processo contínuo de purificação e de atenção, pois o Espírito clama, não por Si (não tem voz), mas o faz pela voz das vítimas de nossas sociedades injustas e excludentes. Se Jesus aceitou a função mais baixa a que uma sociedade pode submeter alguém: a de delinquente executado por blasfêmia e subversão, também os que lhe querem servir não podem temer esta mesma sociedade e o ela lhes tem a oferecer.
Pe. Mário Fernando Glaab

www.marioglaab.blogspot.com

segunda-feira, 4 de julho de 2016

Misericórdia - uma maneira de "ser".

OBRAS MISERCORDIOSAS E SER MISERICORDIOSO

Durante este ano do Jubileu Extraordinário da Misericórdia que, segundo o desejo do Papa Francisco, quer levar todos à contemplação do rosto misericordioso de Deus e à prática da misericórdia em toda a nossa existência, muito se falou sobre o tema. Porém, quero aproveitar para mais algumas reflexões.

Ser misericordioso é mais que fazer obras de misericórdia
            Certa catequista, ao explicar para as crianças a necessidade de praticar as obras de misericórdia, ficou confusa diante da pergunta de uma menina. Entre as obras de misericórdia a criança se deparou com aquela que pede a visita aos presos. “Isso eu não posso fazer, pois é perigoso; e nem sei se me deixam entrar onde estão os detentos”, exclamou ela, preocupada. “Será que eu não posso fazer o que o Papa pede de nós?” A catequista não soube explicar, uma vez que estava diante de um dilema: Deus não pode querer o impossível, mas as obras de misericórdia de fato continham também esta de visitar os encarcerados.
            As obras de misericórdia são objetivas, isto é, estão aí para todos ver. Mas, nem todos podem fazer tudo. No caso da criança, é claro que não compete a ela realizar algo para o que ainda não está apta e, mais ainda, que seria perigoso e impossível. Neste caso, a virtude de prudência equilibra as coisas. Mas não é isto que quero apresentar. Pretendo refletir sobre o “ser misericordioso”.
            Interessante observar que Jesus não prega as obras de misericórdia, mas as supõe no julgamento. Pode-se entender que elas são consequências de quem é misericordioso. Ele apenas diz que é preciso ser misericordioso como o Pai é misericordioso (cf. Lc 6,36), insiste no amor ao próximo e manda seguir o exemplo do samaritano misericordioso ( cf. Lc 10,25-37).
            Levando-se em conta as palavras e as atitudes de Jesus, é possível aprofundar a questão. Jesus mostra que a verdadeira misericórdia é compartilhar a vida. Ou dito de outra maneira, é fazer-se próximo, estar junto do outro. Este outro, no entanto, não é qualquer outro, mas é o outro que está na miséria, aquele que sofre porque lhe é negado o direito de viver humanamente. O miserável é aquele que não tem acesso à vida, conforme Deus quer, isto é, não pode ser verdadeiramente humano. O que possui misericórdia faz-se próximo do miserável e lhe compartilha o coração – aproxima-se com amor. Como o samaritano, o misericordioso irá encontrar uma saída para o caído à beira do caminho da humanidade. As várias obras de misericórdia são frutos do misericordioso. Cada situação terá as “saídas” mais convenientes, conforme a prudência o exige.

Agir com misericórdia é reagir diante da dor e da injustiça
            Quem se preocupa apenas com as obras de misericórdia pode permanecer a vida toda querendo fazer o bem, mas falta-lhe uma verdadeira conversão. Não é fundamentalmente misericordioso.
            Ser misericordioso no profundo do ser significa que a misericórdia, como qualidade da pessoa lhe serve de princípio. É parte de seu fundamento. Deus é misericordioso por natureza; o ser humano, para ser verdadeiro humano, necessita se construir sobre este fundamento que lhe vem de Deus. Isso, em outras palavras, quer dizer que a misericórdia está lá onde está a pessoa. Quando a pessoa misericordiosa entra em contato com o povo sofredor, ela não fica em meros sentimentos. Ela reage. Deus escuta o clamor do povo oprimido e vem-lhe ao encontro para libertá-lo, isto encontramos no Antigo e no Novo Testamentos. O próprio Jesus veio para salvar o que estava perdido.
            O misericordioso, antes de pensar em obras de misericórdia, diante da dor do outro, reage para transformar a realidade. Eliminar o mal e implantar o bem. Procura caminhos de solução. Nesse processo não teme denunciar as causas da dor nem exigir justiça em nome e para os sofredores. A dor alheia, que o toca interiormente, desencadeia a reação misericordiosa que não se acalma enquanto não transforma a dor em bem-estar; mesmo que isso envolva denúncia, luta e que cause sofrimento. É desta reação que surgem as diversas obras, que por sua vez são tentativas para concretamente solucionar a situação na qual se encontra o sofredor. O misericordioso vai utilizando as obras conforme o momento, e, é claro, dentro dos critérios da prudência. Não comprometer um bem maior com uma solução momentânea que pode trazer mais complicações (como seria o caso da criança que fosse visitar os presos).
            Portanto, a misericórdia, como princípio do ser-cristão, define toda a sua existência. A misericórdia define o seu ser ao ponto de fazer parte integral de sua pessoa. É sempre princípio ativo de reação ante qualquer realidade negativa que faz sofrer. Assim, ser cristão é agir com misericórdia; caso contrário, todas as obras são apenas superficiais, não transformam nada.
            A esta altura dá para entender porque a sociedade tolera, e até elogia, as obras de misericórdia; mas não suporta a misericórdia. Já Dom Hélder Câmara dizia que quando dava esmola para os pobres era considerado santo, mas quando apontava os motivos da pobreza (reagia diante das causas da pobreza) era considerado comunista. Então, ser misericordioso como o Pai do Céu é uma meta que parece muito distante, mas queremos sempre de novo recomeçar o caminho. Lembremos que a distância que nos separa do irmão sofredor, que caminha ao nosso lado, pode ser grande, mas se estivermos atentos, poderemos transpô-la. Certamente nos tornaremos apáticos e até contrários aos interesses das classes dominantes, mas é por aí que vai a boa notícia do Evangelho.

Pe. Mário Fernando Glaab

Dialeto alemão do sul do Brasil - Hunsrick

DIE BLUME BRAUCHE NET SCHEN SEN WEIL SIE ES JO SCHUN SEN

Vielmols passiat bei de gute Leit in unsa Kolonie des ma enfach spiert dass was ma lebt etwas Gutes is. So oft mache die Leit Sache wo die gelehrte Mensche iwahaupt net bekeppe. So orme un net gelernte Koloniste hon doch vielmols mee gute Sache im Hetz wie die wo doch blos Wille hon awa kei Finga krum mache fa etwas Gutes tun. Wenn in unsa gute Kolonie mol ene krank is oda hot en Problem, do tun doch gleich die Nochbaschleit sich samme mache, un helfe.
Mea hatte en eltere Mann in de Gechend, dea hot so vieles Gutes getun; hot ach de Leit viel Guteswort gewe, un alles interpretiert, un en gute Sinn rausgehol. Ea is mo gefrot gep wie das wea des die enfache Leit so Gutes un Schenes mache tere, un die Grossartiche doch blos Schweinerei samme brenge tere? De gute Mann hot net lang nogedenkt, hot dan mo parlamentiert: “Das is so: die Blume brauche net schen sen, weil sie es jo schun sen”. Dan hot ea es erklert: “Die orme Leit vun unsa Kolonie, die brauche sich net gut un schen mache, weil sie es jo schun sen. Unsa Leit hon das Gutes un das Schenes insich. Die Grossartiche hon jo doch blos schlechte Gedanke im Kopp, wolle die Annere ausnutze un oanscheisse mit erre Geschefte. Ma muss sich hite von so Mensche, un muss imme zusamme halle. Dan bleibt Gott bei uns un kei Gaune kann uns klein mache.
Orich schen Baispiel. Wenn die Juchend das oach heit bekeppe tet, dan wer die Welt doch noch besse.

Glaabsmário.

sábado, 2 de julho de 2016

Deus ama gratuitamente.

Gratuidade do amor de Deus por nós

            Sentir-se abandonado por Deus é desesperador. Qualquer criatura não amada por ninguém, nem mesmo por Deus, entra em desespero. Nada mais a sustém. Ela morre, uma vez que não faz sentido viver assim.

Contradição lógica
            O Novo Testamento traz dois textos que parecem se excluir mutuamente. Um diz: “Nós que cremos, reconhecemos o amor que Deus tem para conosco” (1Jo 4,16); o outro, de Jesus moribundo, traz o grito: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” (Mc 15,34). Não seria este uma afirmação de falta de fé em Jesus no auge de sua entrega pela sua causa? A lógica pura não funciona. Por traz destas palavras inspiradas fala mais alto, não a lógica, mas o amor vivido e experimentado na fé.
            Ao se dizer que o amor de Deus é reconhecido pela fé, sabe-se que foi esta a experiência de Jesus e de seus discípulos em todos os tempos. Também hoje. Quem não adere, comprometendo-se com Ele, nunca vai reconhecer o mistério deste amor. Deus, em Jesus ama gratuitamente. Exclui os méritos, a observância das leis, das normas ou da religião, mas para todos tem uma mensagem de paz. À medida em que alguém se deixa tocar por Jesus é envolvido na experiência do amor de Deus, que não se explica com palavras e argumentos humanos. No grito de Jesus coloca-se o confronto com o máximo da miséria humana. O abandono de tudo e de todos. Não se justifica o grito! Contudo, no mais profundo da miséria experimentada por Jesus, naquele momento dramático da cruz, vislumbramos a mais pura fé, a mais esplêndida confiança. “Meu Deus, meu Deus, por que...?” Somente pode gritar assim, nas condição desse abandono, quem viveu, vive e viverá sempre na confiança de que Deus estava e estará presente. O abandono é ausência, mas de Alguém que, com certeza, estava aqui, e, que o estará novamente. Alguém que escuta, apesar de não se vê-lo e senti-lo. É morte física, sim; morte para Deus, não; desespero humano, sim; desconfiança no Pai, não.

Amor gratuito
            O mundo tem muita dificuldade para crer no amor de Deus. Mentalidade esta que afeta também as religiões, que ensinam, com seus preceitos, sua moral, suas leis, como se deve proceder para ter a bênção e as graças de Deus. Aquele que faz tudo conforme as regras da religião será amado por Deus. A partir dessa visão se estabelecem critérios para avaliar as religiões como mais ou menos eficientes. Provas de eficiência são bem-vindas!
            Deus, no entanto, age diferentemente. Ele não se submete aos critérios dos sábios e dos prudentes ou poderosos deste mundo. Ele se revela como o Deus que é “só-amor” nos e pelos pequenos e humildes (cf. Mt 11,25-26). Faz com que estes experimentam gratuitamente seu amor, não porque são melhores que os ricos, sábios e poderosos, mas porque lhe estão mais disponíveis. Creem mais facilmente porque não têm os muros do orgulho (bens, sabedoria humana, força e poder) trancando o espaço interior – o coração – de sua vida. Deus ama gratuitamente, oferece os segredos de seu amor. Aquele que crer, experimenta e, consequentemente participa do círculo amoroso. O amor de Deus é para que o ser humano possa amar. Deus pede o que dá e dá o que pede.
            A gratuidade do amor do Pai surpreendeu até mesmo a Jesus. Jesus bendiz ao Pai, surpreso, por fazer o contrário daquilo que todos fazem. Para Jesus a eleição dos simples e pobres para experimentar “estas coisas” já é parte dos mistérios do Reino de Deus. Quem sabe acolher o amor gratuito de Deus, como os simples e os pobres, estará colaborando na atualização do Reino definitivo de Deus; onde prosperará somente o amor.

Pe. Mário Fernando Glaab

segunda-feira, 6 de junho de 2016

Piada em dialeto alemão - Hunsrick

DE PODDA MIT SEI MESSDIENA

En Podda wo doch sei Messdiena so gut behandelt hat, hat dene mo am Endesjoha en Urlaubsrees geschenckt. Hat mo so’n Kombi vol mit Guri gemach um mo fort mit de Kelle. Sie sen uff son Platz kom wo so’n grosse Torm vun fria gestan hot. In dem Torm wo ach noch son riesig gross Glock drin. Die Buwe hon do gestan un gestauent: “Dat is doch mo was grosses un schenes” honse gemeente. Dan hot de Podda mo erkleart: “Also, die Glock – wo schun so riesig alt is -, die wet jo nore benuntz wen Hausbrand is, wen de Bischof komt oder sonscht noch en gross Unglick is im Tol ”. Di Messdiena hon gleich vestan das dem Bischof sei Besuch oach en Unglick is! Naja, es is jo ach vielmols net annesta; manchmol wer es besse wen die Bischoffe dehem bleiwe tere un die Leit gemitlich in ihre Gemeinde lewe losse. Fa mit de Leit umgehen sin jo doch die Podre do. Bis Adiee.


Glaabsmário

quarta-feira, 1 de junho de 2016

Reflexão - Silêncio

O SILÊNCIO DE DEUS E O NOSSO SILÊNCIO

            Alguém perguntou ao grande teólogo Hans Urs von Balthasar, já nos últimos anos de sua vida, depois de ter se dedicado por toda a sua longa vida na busca de dizer algo sobre Jesus Cristo, após ter escrito volumosas obras, ter proferido muitas conferências, refletido e rezado bastante, quem é Jesus Cristo para o senhor? O cristólogo teria parado, pensado por alguns instantes, e respondido assim: “Jesus Cristo é a Palavra de Deus que, por amor aos humanos, se calou.” Não nos é fácil interpretar uma definição tão curta, mas ao mesmo tempo tão rica e concentrada. Tentaremos alguns passos.

Jesus, a Palavra de Deus
            Jesus é a Palavra de Deus encarnada. Não precisamos insistir nisso, pois todos sabemos que o evangelista São João, já no início de sua obra, escreve: “E a Palavra se fez carne e veio morar entre nós” (1,14), introduzindo o seu Evangelho, apresentando Jesus Cristo. Os outros evangelistas – os sinóticos -, mesmo não afirmando como João, também falam de Jesus como aquele que revela o Pai; isto é, com suas palavras e gestos, mostra quem é Deus. Tudo o que Ele diz e faz é comunicação de Deus. Portanto, Ele é a verdadeira Palavra reveladora do Pai.
            A partir disso podemos dizer que a missão de Jesus é “falar” do Pai, sempre. O “trabalho” de Jesus é esta comunicação, e Ele não pode parar, pois estaria negando sua missão. Assim vemos que Jesus não se cansa de ensinar e de agir, realizando a obra de Deus. É o Reino presente e atuante no mundo. No entanto, a Palavra pede resposta, solicita uma outra palavra. Provoca uma palavra humana – a nossa palavra.
            Nós, os humanos, nem sempre damos a devida resposta para a Palavra de Deus; algumas vezes nos calamos. Às nossas respostas Deus continua a falar em Jesus, porém, às vezes também Eles se cala, faz silêncio. Jesus calado – morto na cruz – continua a falar, mas pelo silêncio. Provavelmente seja este o sentido que Balthasar descobriu em Jesus “calado por amor”. A Palavra que fala no silêncio e com amor para que o ser humano possa falar, e o faz com muita paciência. O ser humano, por vezes, o deixa esperar neste seu silêncio por muito tempo, outras vezes nunca responde.

Deus não respondeu
            O silêncio de Deus também é resposta, e sempre resposta amorosa. Quando Jesus estava pregado na cruz os passantes o desafiaram: “Se és o Filho de Deus, desce da cruz!” (Mt 27,40), mas ele não desceu. O Pai se calou; Jesus se calou! Por que Deus não respondeu ao seu Filho Jesus que estava sendo desafiado, e que lhe gritou “Por que me abandonaste?” (Mt 27,46)?
            Nada mais sério que o silêncio do Pai. Diante dos gritos, das blasfêmias e dos insultos do povo, somente Deus pode ficar calado. Este silêncio de Deus foi compreendido por Jesus como o sinal máximo de amor do Pai para com Ele e para com a sua obra: dar a vida pelo mundo. Deus não respondeu a Jesus, nem aos gritos da multidão, para que o ser humano pudesse se decidir e dar a sua resposta. Jesus deu sua resposta: “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23,46); em seu nome e em nome de seus discípulos. No silêncio Deus amou até o fim o Filho e toda a humanidade. Agora, cada um de nós pode responder ao silêncio de Deus, seguindo e exemplo do Mestre Jesus. Quando Deus se cala em Jesus Cristo, é o exato momento de nossa resposta.

Silêncio perturbador
            O silêncio, no entanto, é perturbador. O silêncio de Deus nem sempre é silêncio bem-vindo, pois nós não queremos responder ao silêncio. Pois nossa resposta nos compromete. É mais confortável que Ele fale e que nós permaneçamos calados. Preferimos um Deus falador, alguém que denuncie a injustiça, que diga o que nós queremos ouvir e legitime o que nós queremos fazer. Quando Ele faz isso, nós estamos isentos de reponsabilidade; se Ele denuncia a injustiça, nós não o precisamos fazer. Assim, Ele nos justifica diante do mundo. No entanto, é muito mais desafiador responder e nos comprometer: Ele calado e nós falando!
            O silêncio de Deus chega a ser desconcertante, perturbador e demolidor de nossos planos, esperanças e esquemas. Permanece um terrível desafio para nós. Mas não deixa de ser “palavra de amor”, uma vez que nos quer envolver – contar conosco para que assumamos com Ele a luta contra o mal, contra o ódio e contra tudo o que faz sofrer, o que elimina a vida.
            Nos momentos mais terríveis de sofrimento e de morte, quando não ouvimos a voz de Deus vindo em nosso auxílio, sem dúvida, Ele está calado em nossa dor; e mais ainda, na dor do irmão que necessita de amor maior e compreensão da humanidade.
            Não esqueçamos que o desconcertante silêncio divino, além de nos deixar falar, também nos convida a atos de silêncio, convida-nos ao silêncio humano, quando somente o amor pode ser ouvido. Participar do sagrado silêncio de Deus pode se tornar experiência de amor verdadeiro que dispensa palavras.
            Aprender a participar do silêncio de Deus seja talvez o mais árduo desafio para nós, contudo nos conduz ao amor mais humano, à prática mais verdadeira da caridade. Tenhamos coragem de nos aproximar do silêncio de Deus para, por nossa vez, aprendermos a calar, e darmos nossa pequena resposta somente com amor.

Pe. Mário Fernando Glaab