segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Jesus rezou, nós rezamos.

REZAR UNS PELOS OUTROS
            Jesus, antes de morrer, segundo o evangelista João, rezou, com intensidade única, ao Pai por si e por todos os que haviam de ouvi-lo e aceitá-lo. Pede ao Pai para que guarde os seus porque também o são dele. A certa altura Jesus se torna insistente, argumenta dizendo que pede por aqueles que lhe foram dados e aos quais fez conhecer o nome do Pai (cf. Jo 17).
            É, sem dúvida, um modelo de oração para qualquer cristão. Contudo, pode-se colocar algumas questões: Se Jesus tem consciência de que a missão que recebeu do Pai é justamente essa: dar a conhecer aos discípulos quem é o Pai; por que se faz necessário que agora ele pede ao mesmo Pai que os guarde? Sendo o Pai, conforme Jesus o apresenta, a fonte do amor e a origem de toda a história, e mais ainda, a última palavra de todos os acontecimentos, como é que se pode pedir que o amor ame? Não é de sua natureza amar sempre e a todos? Será necessário pedir ao Pai que ame (guarde)?
            Alguém vai dizer que nessa oração se revela a intimidade misteriosa entre o Filho e o Pai Eterno. Não se deve duvidar disso. Porém, quando falamos de Jesus, não podemos esquecer que ele é Deus e Homem. Jesus é humano como todos nós, e por isso mesmo ele se sente limitado como todos nós. A divindade de Jesus não faz desaparecer a sua humanidade. Jesus reza como pessoa: é o Deus Humanado. Os sentimentos humanos de Jesus entram no mistério de sua oração e, são aproveitados nos desígnios do Pai.
            A partir da oração de Jesus podemos nos perguntar sobre o verdadeiro conteúdo da oração cristã. O que Jesus faz e pede ao Pai? Analisando bem, podemos perceber que ele traduz em oração o que em outro lugar disse: “o meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e realizar completamente a sua obra” (Jo 4,34). A oração e a ação de Jesus se identificam com a vontade de Deus. E assim pode-se dizer que o único conteúdo de todas as orações que pretendem ser cristãs, isto é, como as de Jesus, é sempre o mesmo: pedir ao Pai que faça exatamente o que ele faz. O conteúdo torna-se resposta comprometedora. Pois o Pai não precisa das nossas orações para atuar, mas nós é que precisamos da oração para podermos aceitar o amor do Pai e fazer sua vontade. Quanto mais Jesus reza, tanto mais está em condições para se doar completamente em sua missão.
            A essa altura cabe a pergunta, mas por que Jesus rezou pelos seus discípulos? Como já afirmamos acima, é a humanidade de Jesus que se dispõe sempre de novo com o Pai em favor dos que lhe foram dados. Ele sempre de novo se coloca em sintonia com o desejo de Deus para que todos sejam salvos. Sua oração é a melhor manifestação de sua disponibilidade para fazer o que o Pai quer dele. Mesmo tendo consciência da incapacidade de atingir muitas pessoas, pois precisa dos amigos para levar adiante sua missão, ele se deixa envolver pelo amor do Pai. Esse amor envolve tudo. Assim, Jesus comprometido, vai até as últimas consequências.
            Rezar uns pelos outros, eis a questão. Tem sentido para nós pobres criaturas, cheios de pecados e ambiguidades, pedir em favor dos outros? Estamos nós em condições para dizer a Deus o que é bom para o nosso semelhante? Quando as perguntas são colocadas dessa forma, com certeza não receberão respostas satisfatórias. Melhor seria formulá-las de outra forma. O amor de Deus acolhido por nós pode-nos transformar a tal ponto de nos comprometer com o bem do outro? Podemos descobrir, pela oração, o que convém, o que é bom, para o próximo? Aí sim, será possível uma resposta afirmativa. O sim que se dá para essa questão automaticamente compromete. Rezar uns pelos outros não se restringe a dizer a Deus o que ele deve fazer para o destinatário de nossa prece; mas, pelo contrário, ao constatarmos as necessidades dos outros, falamos delas para Deus, nosso Pai, e, deixando-nos envolver pelo amor que dele procede, comprometemo-nos em fazer o que está ao nosso alcance para que esse irmão não passe por necessidades, e, a partir da força da oração, o amor nos une em comunhão com a pessoa pela qual rezamos. Mesmo que geograficamente alguém esteja longe da pessoa pela qual quer rezar, a oração une todos em Cristo, pois para o amor não existem barreiras. Viemos e existimos todos da mesma fonte de amor que é próprio coração de Deus, rico em misericórdia.
            Rezemos uns pelos outros, mas rezemos comprometendo-nos uns com os outros; assim como Jesus rezou ao Pai pelos seus discípulos (por todos nós), comprometendo-se com cada um até as últimas consequências, dando a vida por todos nós.
Pe. Mário Fernando Glaab

www.marioglaab.blogspot.com